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Ministra de Lula promete perícia independente a parentes de mortos em megaoperação no Rio

Macaé Evaristo classificou a ação policial que deixou 121 mortos como “um fracasso” e anunciou medidas de apoio às famílias das vítimas.

Macaé Evaristo, Ministra dos Direitos Humanos | Foto: Luiz Santana
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A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, afirmou que o governo federal vai realizar uma perícia independente dos corpos das vítimas da megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos, incluindo quatro policiais. A declaração foi feita nesta quinta-feira (30) durante reunião com familiares de vítimas e representantes da comunidade.

Na nossa visão, a perícia no local está muito prejudicada”, disse a ministra, que integrou uma comitiva do governo e da Câmara dos Deputados em visita à região. Segundo ela, a Polícia Federal disponibilizou peritos para auxiliar nas investigações.

“Um horror inominável”

Em entrevista coletiva após o encontro, Macaé Evaristo classificou a operação como “um fracasso, uma tragédia, um horror inominável”. A ministra destacou que as ações de combate ao crime organizado precisam atingir as estruturas de comando, e não apenas as comunidades.

“Se quisermos combater o crime organizado, tem que começar por cima. Não adianta chegar em nossas comunidades expondo crianças, pessoas idosas e com deficiência a esse pavor”, afirmou.

A gestão do governador Cláudio Castro (PL), que chamou a operação de “sucesso”, apresentou na quarta-feira (29) o balanço da ação, que é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro.

Moradores levam 54 corpos para praça do Complexo da Penha. Rio — Foto: Gabriel de Paiva

Encontro com familiares

A reunião com os familiares aconteceu na sede da Central Única das Favelas (Cufa), próxima à Praça São Lucas, onde dezenas de corpos foram deixados por moradores após a operação. Durante o encontro, parentes relataram momentos de desespero e a busca por desaparecidos na mata da Serra da Misericórdia, área usada por traficantes como rota de fuga e esconderijo.

A ministra anunciou que o governo federal também vai oferecer atendimento psicossocial, apoio jurídico e proteção a testemunhas, especialmente para crianças.

“Tem uma questão da segurança pública, mas segurança é direito de toda a população. Não adianta segurança se não tiver associada a políticas públicas de saúde e educação”, afirmou.

Pedido de transparência

Durante a fala da ministra, um morador pediu que as imagens das câmeras corporais dos policiais sejam divulgadas.

“Ministra, tem que ter as imagens das câmeras das fardas, não mostraram nada ainda”, cobrou. 

Macaé respondeu que a reivindicação será incluída nas discussões com as autoridades responsáveis pela apuração.

Com a voz embargada, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também se pronunciou: 

Só quem sabe da favela é o favelado. Ser cria da favela da Maré me faz chegar nesse espaço e nunca esquecer de onde vim.”

Contexto da operação

A operação policial foi realizada na terça-feira (28) e reuniu 2,5 mil agentes civis e militares. Segundo o secretário da PM, coronel Marcelo Menezes, o Bope cercou os complexos da Penha e do Alemão e bloqueou a rota de fuga dos suspeitos na Serra da Misericórdia, criando o que chamou de “muro do Bope”.

A região da serra, que se estende por cerca de 300 mil metros quadrados, é conhecida por abrigar o chamado “tribunal do tráfico”, prática de execuções ordenadas por facções criminosas.

Megaoperação foi a mais letal da história - Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Próximos passos

A perícia independente anunciada pelo Ministério dos Direitos Humanos deve contar com o apoio técnico da Polícia Federal e de especialistas civis. O objetivo é garantir transparência nas investigações e apurar as circunstâncias das mortes registradas durante a ação policial.

Além da investigação, o governo federal pretende acompanhar de perto as medidas de reparação às famílias das vítimas e promover ações integradas nas áreas de direitos humanos, assistência social e segurança pública.

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