Ao analisar as mensagens arquivadas no telefone do senador Marcos do Val (Podemos-ES), entregue pelo parlamentar à Polícia Federal (PF), durante depoimentos prestados em fevereiro passado, os policiais descobriram que ele tinha o hábito de enviar mensagens "não solicitadas e sem sentido" a sua lista de contatos. De acordo com fontes do caso, era uma forma de criar álibis ou tramar acusações fraudulentas, sob consciência de que o aparelho poderia ser apreendido.
Há mensagens do tipo envolvendo, inclusive, o plano golpista que, no início do ano passado, ele afirmou publicamente ter articulado junto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Pelo que é observado, a cortina de fumaça feita por Marcos do Val dificulta até mesmo uma conclusão sobre verdadeiro nível de contribuição do ex-chefe do Executivo na armadilha golpista relatada pelo senador.
“A análise dos dados poderia tanto levar à conclusão de que Bolsonaro é totalmente culpado ou inocente”, apontou uma fonte com conhecimento da análise feita pela PF nas mensagens encontradas no celular do parlamentar.
Em entrevista realizada no início do ano passado, Marcos do Val relatou um suposto trama no qual ele tentaria gravar, de forma ilegal, inconferências do ministro do Supremo Tribunal Federal (STS), Alexandre de Moraes. As gravações seriam usadas como argumento para invalidar as eleições e, assim, garantir a continuidade do governo de Jair Bolsonaro (PL). Na ocasião, o senador alegou ter conversado preliminarmente sobre a artimanha com o próprio presidente.
Elaboração de pistas falsas
Em conversa com outra fonte ligada ao caso, o interlocutor exemplificou a prática do parlamentar contando ter recebido dele uma mensagem agradecendo por uma suposta reunião realizada no dia anterior. Só que o encontro nunca existiu. “As pessoas já sabiam da prática e nem respondiam”, afirmou a fonte.
As mudanças bruscas em falas públicas, que constataram inclusive com as que foram prestadas no depoimento à PF logo após a entrevista sobre a trama golpista, levaram os investigadores a crer que Marcos do Val estava atrapalhando as investigações conscientemente.
Nos últimos meses, a PF colheu provas que poderiam levar à prisão do senador, por tentar promover barreiras para dificultar a apuração do suposto plano golpista que tinha Alexandre de Moraes na mira. Os policiais chegaram a pedir ao ministro da Corte a captura ou a suspensão temporária do parlamentar dos ofícios políticos, mas ele decidiu ordenar apenas a busca e apreensão. O mandado de detenção foi cumprido na tarde desta quinta-feira (15).