Em uma decisão divulgada nesta sexta-feira (14), pela Justiça, o empresário Saul Klein, filho do fundador da empresa de varejo Casas Bahia, foi condenado pela Justiça do Trabalho a pagar uma multa avaliada em R$ 30 milhões. O empresário foi preso após acusações de que ele estaria explorado sexualmente e submetendo um grupo de mulheres à condição de trabalho escravo. A prisão de Saul foi considerada a maior condenação por tráfico de pessoas já ocorrida em todo o país.
De acordo com informações cedidas pelas autoridades, Saul Klein, de 65 anos, recrutava um grupo de jovens entre 16 e 21 anos, que viviam em situação de vulnerabilidade social e econômica. O abusador fazia um falso acordo com as jovens onde prometia empregá-las para que trabalhassem como modelos. As vítimas eram levadas para ficarem hospedadas em um sítio pertencente ao empresário, localizado em Boituva, São Paulo, onde eram mantidas em cárcere privado, e obrigadas a manter relações sexuais com ele.
Ainda de acordo com os depoimentos da investigação, as jovens contam que eram mantidas sob ameaça de morte e agressão, além de serem constantemente vigiadas por homens armados, sem nenhum acesso ao celular. Além de toda a violência física e psicológica, de acordo com um atestado apresentado a polícia, que foi emitido por uma ginecologista que sempre atendia as jovens após festas que o empresário realizava, as vítimas foram contaminadas com infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Quase cem mulheres foram examinadas pela médica, e a maioria foi diagnosticada com o papilomavírus humano (HPV), infecção que pode gerar o câncer de colo do útero.
A condenação do empresário foi atendida após um pedido feito pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Gustavo Accioly, o procurador do Ministério Público do Trabalho, responsável por assinar a ação, afirmou: “O que se combate aqui não é prostituição em si, já que, se ela fosse exercida de forma livre, consentida e voluntária, não haveria ofensa à ordem jurídica. Combate-se o ato de se tirar proveito econômico indevido de pessoas forçadas física ou moralmente, mediante abuso, fraude ou engodo, a praticarem atos sexuais sob forte subjugação”.
Durante a audiência de condenação, a juíza responsável por autorizar a prisão de Saul explicou ainda que o empresário “se valia de uma grande estrutura para a prática dos ilícitos, detentor de grande influência e poder econômico, o que leva a crer que pode vir a praticar novamente tais atos”. Saul Klein foi condenado a pagar uma indenização, considerada título de dano moral coletivo, no valor de R$ 30 milhões, além de estar estritamente proibido de repetir o ato de recrutar mulheres com propósito de exploração sexual, ou de alguma forma submetê-las a trabalho escravo.
Em dezembro do ano de 2020, o empresário já havia se envolvido em um escândalo parecido. Cerca de 32 mulheres denunciaram Klein ao Ministério Público por estupro e aliciamento. Assim que o inquérito foi concluído, somente em abril de 2022, a polícia indiciou o criminoso e pediu a prisão sua prisão preventiva, assim como de mais nove pessoas contra outras 14 mulheres. Ainda assim o pedido foi negado em maio do ano passado pela Justiça de São Paulo, que encaminhou novamente o caso à Polícia Civil para que uma nova investigação fosse feita, a pedido do Ministério Público.