Neste século, o Brasil já foi presidido por Fernando Henrique Cardoso, centro, Lula, centro, Dilma Rousseff,esquerda, Michel Temer, direita, Jair Bolsonaro, extrema direita. Agora, de novo, Lula, centro. Em nenhum desses governos, as regras de interrupção da gravidez foram alteradas. Até porque isso teria que obrigatoriamente passar pelo Congresso, já que modificaria a Constituição.
Mas o mundo vive uma onda ultraconservadora e aqui os políticos se apropriaram dela do jeito que mais sabem e gostam. Os conservadores/reacionários emparedam o governo na pauta de costumes açulando temas como aborto, drogas e orientação sexual , com o objetivo final de emendas e cargos.
Lula carece desse apoio. Nos primeiros mandatos, ele criou a Lei da Liberdade Religiosa , o Dia Nacional da Marcha para Jesus, isentou igrejas de impostos e fortaleceu o Republicanos, partido referência da bancada da Bíblia. Nos dias que correm, terá que fazer mais. Precisará se afastar , ele e seu governo , de qualquer iniciativa que abra brecha a coscuvilhice dos adversários fanáticos.
Existe, por um lado, uma falta de manejo do governo e do campo progressista e democrático para lidar com o papel da religião, em especial dos evangélicos ultraconservadores no debate público. Por outro, há um ambiente permanente de radicalização que a extrema direita mantém cultivando. E pra complicar ainda mais, o identitarismo é bandeira da esquerda e do PT.
Lula domina a arte do nó em pingo d’água. Terá que exercitar.