Nesta quarta-feira (19), em um novo depoimento prestado à Polícia Federal (PF), o senador Marcos do Val (Podemos-ES) reafirmou suas alegações de que o ex-deputado (PTB-RJ) havia se reunido com ele e o então presidente Jair Bolsonaro (PL) para discutir sobre a possibilidade de gravar, de forma clandestina, o ministro Alexandre de Moraes. Os políticos tinham o objetivo de invalidar as eleições em um encontro de suposto teor golpista, que também envolveria pessoas identificadas como "Cinco Estrelas". Suas declarações contradizem partes do depoimento prestado pelo próprio ex-presidente à PF na semana passada.
Do Val foi interrogado por três delegados federais pertencentes à Coordenação de Inquéritos dos Tribunais Superiores, unidade da PF responsável por investigações sensíveis envolvendo indivíduos com foro privilegiado.
Na oitiva realizada em 12 de julho, na qual abordou a suposta trama golpista, Bolsonaro negou qualquer discussão sobre a gravação de Moraes durante a reunião com Silveira e Do Val. Alegou que "nada foi falado sobre o ministro Alexandre de Moraes". Porém, Do Val deixou claro que Silveira mencionou a proposta "na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro", embora o ex-mandatário, segundo o senador, não tenha feito qualquer comentário durante o encontro.
Contradição
Em 12 de julho, Bolsonaro também declarou que não sabia se a iniciativa da reunião partira de Do Val ou de Silveira e que "não teve contato anterior" com o senador. No entanto, Do Val assegurou que foi o próprio ex-presidente quem o convidou, com a participação de Silveira.
Do Val reforçou, em seu depoimento desta quarta-feira, que os únicos participantes da reunião supostamente relacionada ao golpe foram ele, Bolsonaro e Silveira. No entanto, acrescentou que o ex-deputado pretendia envolver mais pessoas.
Questionado sobre a possível colaboração de outras pessoas na "missão", Do Val afirmou que Silveira não discutiu isso durante a reunião, mas logo em seguida enviou uma mensagem via WhatsApp dizendo: "Irmão, essa missão está restrita a três pessoas e provavelmente contará com mais cinco após ser concluída. Cinco Estrelas." O senador admitiu que não sabia o que Silveira quis dizer com esse termo e disse que preferiu não perguntar.
Apesar de contradizer Bolsonaro, Do Val aparentemente buscou absolvê-lo de culpa durante seu depoimento. Ele afirmou que ficou claro que, durante a reunião, Silveira estava tentando convencer tanto ele quanto o ex-presidente. Além disso, disse que, "pela expressão de surpresa do ex-presidente", acredita que apenas Silveira sabia sobre o que seria discutido no encontro.
Rápida mudança de posicionamento
Em seu depoimento anterior, feito em fevereiro, Do Val acusou Bolsonaro de tê-lo convidado a participar da suposta trama golpista. No entanto, posteriormente, ao ser questionado pela polícia, ele mudou sua versão e protegeu o ex-presidente, afirmando que a responsabilidade seria de Daniel Silveira, e que Bolsonaro teria permanecido em silêncio.
Quando confrontado sobre essa contradição, o senador admitiu ter mentido à imprensa e afirmou que utilizou a "estratégia da persuasão" na primeira declaração para chamar a atenção da mídia. Agora, no depoimento desta quarta-feira, Do Val apresentou uma nova explicação para suas acusações contra Bolsonaro, alegando que a entrevista teria sido concedida em um momento de grande pressão de eleitores, que acreditavam que ele não apoiaria a candidatura de Rogério Marinho (PL), candidato de Bolsonaro à presidência do Senado.
Ele afirmou que, nessa época, sua filha recebeu ameaças, o que teria sido o gatilho para suas acusações contra o ex-presidente. Além disso, durante seu depoimento desta quarta-feira, ele disse que, "percebendo que havia feito essas acusações infundadas em um momento de raiva, resolveu desdizê-las em várias manifestações posteriores". Essa explicação seria a razão para suas constantes contradições.
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