O ex-presidente Jair Bolsonaro, do partido PL, está programado para prestar um novo depoimento à Polícia Federal na próxima quarta-feira, dia 12 de julho. O depoimento faz parte de uma operação que tem como alvo o senador Marcos do Val. Segundo as assessorias jurídica e de comunicação de Bolsonaro confirmaram ao Metrópoles, a oitiva está marcada para as 14h na sede da PF em Brasília.
Em junho, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que Bolsonaro prestasse um novo depoimento à Polícia Federal. Esta será a quarta vez que o ex-presidente será ouvido pela PF desde o início do ano. A operação em questão está investigando um suposto plano para gravar clandestinamente Moraes, numa tentativa de reverter a derrota de Bolsonaro nas últimas eleições.
Em primeiro plano, o senador Marcos do Val havia alegado nas redes sociais que houve uma tentativa de Bolsonaro de coagi-lo para participar de um golpe de Estado. No entanto, posteriormente, o senador mudou sua versão, afirmando que Bolsonaro permaneceu em silêncio durante uma reunião que tiveram. Nessa versão, do Val responsabilizou o ex-deputado Daniel Silveira pelo planejamento e afirmou ter denunciado tudo ao ministro Alexandre de Moraes.
O ministro Alexandre de Moraes autorizou, em junho, uma operação de busca e apreensão no apartamento funcional ocupado por Marcos do Val em Brasília, em seu gabinete no Senado e em pelo menos um endereço no Espírito Santo. Essas medidas foram solicitadas após os investigadores verificaram tentativas do senador de atrapalhar as investigações sobre os atos terroristas ocorridos em 8 de janeiro. No final de junho, Marcos do Val pediu afastamento das atividades no Senado, alegando precisar de atendimento médico.
Marcos do Val, do Podemos-ES, explanou detalhes e relatou que no dia 7 de dezembro de 2022, estava no plenário quando Daniel Silveira o abordou. Silveira pediu para conversar com ele fora do plenário, pois não estava vestido adequadamente. Do Val disse ter achado isso estranho, mas não rejeitou inicialmente o contato.
"No dia seguinte, não foi possível atender ao pedido de reunião, então perguntei se poderia ser na sexta-feira. Mas eu já estava pensando em relatar ao ministro Alexandre de Moraes. Encontrei-o no Salão Branco do STF e disse a ele que tinha sido abordado por Daniel Silveira e perguntei o que ele achava, se eu deveria ir ou não. Ele disse: 'Vá, porque quanto mais informações, melhor'. Marquei para o dia seguinte", relatou Marcos do Val.
Logo após, o senador relatou o que ocorreu na reunião com Bolsonaro e Silveira, na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República. "Silveira disse que eles me pegariam em outro veículo. Meu motorista parou em um estacionamento, Silveira parou um carro atrás, e Daniel já estava dentro do veículo. Pedi para o meu motorista esperar, saí do carro e fui para o carro deles. Passei despercebido na cancela da Granja do Torto e, para mim, era algo relacionado à área de inteligência e aos acampamentos nos quartéis. Iniciamos a conversa apenas eu, Daniel e o ex-presidente Bolsonaro. Afirmei que era melhor informar a sociedade o mais rápido possível que não haveria nenhuma intervenção militar e retirar aqueles brasileiros de lá", continuou o senador.
"Daniel Silveira começou a explicar por que eu tinha sido convocado", prosseguiu do Val, que então narrou o plano, formulado por Silveira segundo ele, de agendar um encontro com Moraes, comparecer a essa reunião levando um equipamento de gravação e tentar induzir o ministro do Supremo a admitir algum tipo de ato ilegal durante o processo eleitoral com a finalidade de beneficiar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
"Eu disse que iria pensar e, durante todo o processo, o presidente ficou em silêncio, quem falava era Daniel", disse Marcos do Val. "Peguei o voo e fui para Vitória, mandei uma mensagem para o ministro Moraes informando mais ou menos o que seria a conversa. Voltei a Brasília, nos encontramos no STF. Relatei tudo a ele. O ministro ficou surpreso, ele é muito introspectivo. Olhou para cima, balançou a cabeça. Eu disse: 'Ministro, estou liberado?' Ele disse que sim."
Segundo Do Val, Bolsonaro não disse nada, mas não impediu Daniel de comentar a ideia. "Quando eu disse que não cumpriria a missão e que não compactuaria com isso, Silveira continuou insistindo. Ele ligava várias vezes, mas eu não atendia o telefone", concluiu o senador.