Forças Armadas querem punir Cid e militares golpistas ligados a Bolsonaro

Em contrapartida, o Exército fala em manter 'imagem' e 'reputação' da instituição de defesa

Tenente-coronel Mauro Cid - ex-funcionário de Bolsonaro | Vinícius Schmidt
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Em meio ao aumento do número de militares ocupando cargos no governo Bolsonaro (PL) sob investigação, o ministro da Defesa, José Múcio, solicitou à Polícia Federal (PF) acesso aos nomes dos membros das Forças Armadas que se encontraram com o hacker Walter Delgatti Neto, supostamente envolvidos em tentativas de desacreditar a segurança das urnas eletrônicas. Essa iniciativa indica a intenção das Forças Armadas de tomar medidas contra aqueles que estiverem envolvidos em ações golpistas. Paralelamente, o Exército adota medidas internas para não desagradar os quartéis.

Além do hacker, que afirmou em seu depoimento à CPI dos Ataques Golpistas do 8 de janeiro que se encontrou cinco vezes no Ministério da Defesa (MD) por recomendação do ex-presidente, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, tornou-se um problema para os militares. Cid está detido desde o início de maio, acusado de falsificar cartões de vacinação contra a Covid-19 e é um dos principais suspeitos em um suposto esquema de desvio das joias sauditas. Os oficiais aguardam uma decisão da Justiça para que Cid seja submetido a um procedimento interno que pode levar a sua expulsão.

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Solicitamos informações à PF. Estamos aguardando o retorno. Diante dos dados que eles enviarem, tomaremos todas as providências que forem necessárias", declarou Múcio ao jornal O Globo.

A punição de militares envolvidos em tramas golpistas foi discutida durante uma reunião entre Múcio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os comandantes do Exército, Tomás Paiva; da Marinha, Marcos Sampaio Olsen; e da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno. O encontro ocorreu no Palácio da Alvorada no último sábado.

A reunião foi resultado de uma conversa telefônica entre Lula e Múcio na manhã do próprio sábado (19). Múcio, que estava no Rio de Janeiro, mencionou que ele e o presidente ficariam um longo período sem se encontrarem, pois Lula viajaria para a África do Sul. O mandatário então convidou Múcio a ir até o Alvorada e trazer o comandante do Exército. Minutos depois, um assessor do presidente telefonou pedindo que os outros dois comandantes também fossem convidados.

Questões discutidas no encontro

Embora o foco principal da reunião fosse o orçamento da Defesa para 2024, Lula discutiu a CPI e mencionou o depoimento de Delgatti. Ficou acordado na reunião que o Exército não comentaria a declaração do hacker para evitar a agitação do ambiente, que ainda se encontra em processo de reconciliação após os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro. Os oficiais das Forças Armadas minimizam Delgatti e consideram que seu depoimento deve ser interpretado com cautela. O hacker ganhou notoriedade ao invadir as contas de procuradores da Lava-Jato em 2019 e divulgar suas mensagens.

Em relação a Cid, a cúpula do Exército reconhece que a imagem da Força está sendo prejudicada pelas revelações sobre seu envolvimento na venda de joias recebidas pelo ex-presidente. No entanto, argumentam que o devido processo legal não pode ser apressado. Os comandantes alegam que é necessário individualizar as condutas e punir os culpados para preservar a integridade da instituição das Forças Armadas. No esforço de melhorar o relacionamento com os militares, Lula informou, durante a conversa de sábado, que participará do desfile de 7 de setembro. No entanto, ele busca despolitizar o evento.

Ordem interna

Em resposta à série de denúncias que envolveram membros das Forças Armadas, o general Tomás Paiva emitiu uma ordem interna enfatizando que os militares "devem nortear suas ações pela legalidade e legitimidade".

A Ordem Interna nº 1, datada de 10 de agosto, foi publicada no boletim do Exército na última sexta-feira. No dia 11, a PF realizou uma operação para esclarecer as vendas de joias recebidas por Bolsonaro enquanto era presidente.

No documento, o comandante ressalta que o Exército é uma "Instituição de Estado, apartidária, coesa, integrada à sociedade e permanentemente em prontidão". Ele destaca que há um desconhecimento da sociedade sobre as atividades da Força que "trazem benefícios à nossa população". Em resposta, o texto menciona a criação da Associação de Amigos do Exército.

Em um gesto interno, o documento enfatiza a necessidade de proteger e fortalecer a "imagem" e a "reputação" do Exército, evitando a disseminação de desinformação. Tomás também menciona a intenção de "fortalecer as ações voltadas para o bem-estar da família militar" e instrui o Estado-Maior do Exército a elaborar medidas para a "recomposição salarial dos militares".

Desde antes da posse, os auxiliares de Lula estão preocupados em evitar atritos com os militares, um dos pilares fundamentais do governo Bolsonaro. A escolha de Múcio, um político habilidoso, foi feita com esse objetivo.

Desde o início do ano, Múcio tem participado de reuniões com parlamentares da base do governo, incluindo convites da relatora da CPI dos Ataques Golpistas, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA). A última reunião ocorreu há um mês.

Nesses encontros, Múcio expressou preocupação com a Comissão Parlamentar de Inquérito. De acordo com participantes das discussões, o ministro argumentou que a cautela era necessária devido ao momento de construção de pontes entre a esquerda e os militares. Alguns parlamentares entenderam isso como um pedido para poupar membros das Forças Armadas. No entanto, os interlocutores de Múcio observam que ele nunca mencionou quais nomes.

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