A nova estratégia jurídica do tenente-coronel Mauro Cid teve grande repercussão política, mas não deve garantir a ele interesse da Polícia Federal na versão apresentada. O advogado do ex-ajudante de ordens, Cezar Bitencourt, deu entrevistas nos últimos dias afirmando que Cid vai confessar que vendeu nos Estados Unidos o Rolex recebido de presente da Arábia Saudita por ordens do presidente Jair Bolsonaro.
Contudo, de acordo com investigadores que trabalham no inquérito sobre a venda e a recompra das joias sauditas, não há nenhum interesse na confissão do tenente-coronel visto que as provas inseridas no inquérito são robustas. "Essa confissão que ele quer fazer não acrescenta nada ao que já sabemos. As provas que reunimos já mostram que ele vendeu o relógio e que fez isso por determinação do ex-presidente", diz um investigador envolvido no caso. "Se for para confessar o que a PF já sabe, melhor ele esperar para tentar usar a confissão no julgamento e reduzir a pena", informou.
Desde que entrou no caso em nome de Cid, na última quarta-feira, o criminalista Cezar Bitencourt já deu duas versões diferentes para a venda das joias sauditas. Cid teve a prisão preventiva decretada pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes em maio.
Na quinta-feira, Bitencourt disse à revista Veja que Cid confessaria a negociação de joias subtraídas do patrimônio da Presidência sob ordens de Bolsonaro. Mas nesta sexta-feira, em entrevista ao programa Estúdio i, da Globonews, ele recuou e disse que o ex-ajudante de ordens operou a venda de uma única joia, um Rolex.
Questionado sobre o que foi feito do dinheiro, disse que não sabia ao certo, mas que achava que tinha sido transportado nos bolsos de alguém, e entregue ao ex-presidente ou à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
De todo modo, a PF diz não ter "nenhuma pressa" de ouvir nem Cid filho e nem o pai, general Lourena Cid, que emprestou sua conta bancária nos Estados Unidos para receber os US$ 68 mil pagos pelo Rolex de platina cravejado de diamantes por uma loja da Pensilvânia.