Depois de 100 dias hospedado em Miami, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ao Brasil em silêncio. Aconselhado por amigos e advogados, adotou desde o retorno uma postura discreta, sem se pronunciar via lives nas redes sociais. O ex-presidente atendeu à convocação da Polícia Federal (PF) para prestar depoimento sobre as joias árabes recebidas de presente, fraude nas carteiras de imunização e a tentativa de golpe no 8 de janeiro. Convocação essa que ele obedeceu sem resistência para não desagradar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), sobretudo, Alexandre de Moraes.
Porém, nesta quinta-feira (22), em visita a Porto Alegre (RS), uma das cidades sulistas em que Bolsonaro possui um significativo reduto eleitoral, ele voltou a disparar acusações, sem provas, contra a Corte Eleitoral.
“Hoje [quinta-feira (22)], começa o meu julgamento político. Ou melhor, não é político, é politiqueiro. Da mais baixa intenção por parte de alguns. Não estou atacando o TSE. Mas a fundamentação é inacreditável: ‘Reuniu-se com embaixadores’. O outro cara, no ano passado, se reuniu com a nata do PCC no Complexo do Alemão, no Rio, e vai se reunir com a nata do Foro de São Paulo”, alegou.
O ex-chefe do Executivo também voltou a atacar a credibilidade do Supremo, Poder esse que julgará se as leis aprovadas pelo Congresso Nacional não violam os acordos firmados pela Constituição.
“Não pode 594 pessoas [a totalidade de senadores e deputados federais] decidirem de um jeito e outras 11 [os ministros do STF] decidirem diferente", afirmou.
Um dia antes, na quarta-feira (21), o ex-presidente já havia conspirado contra o STF e o Ministério Público Federal (MPF), dizendo ter sido alvo de uma nova investida da justiça.
“Foram na minha casa querer saber como está a minha filha, de 12 anos de idade. Os caras, inclusive, não têm limite. […] Não tem nenhuma denúncia, nada contra ela. Foram lá para saber como é que está o cartão de vacina dela”, declarou.
"Os caras”, que ele faz referência, são os agentes do MPF. O cartão de imunização de sua filha Laura foi falsificado. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-funcionário da presidência, fraudou o certificado de vacinação para Bolsonaro e para sua própria esposa. Além disso, a PF encontrou no celular do militar uma minuta contendo uma cartilha de como se daria o golpe contra o Estado Democrático de Direito. Cid está agora detido.
O presidente do Partido Liberal, legenda que hospeda o ex-presidente, Valdemar Costa Neto, pediu para que parlamentares da sigla saíssem em defesa de Bolsonaro.
“É um momento em que precisamos nos unir, o PL é um partido de direita. Faremos reuniões com nossos deputados por todo o país. Isto começará na segunda, em São Paulo, onde Bolsonaro estará para uma visita à Assembleia Legislativa do estado”, afirmou.
Costa Neto estava presente no palanque, em que o ex-presidente disparava acusações sem apontar provas materiais, e se dirigiu ao público bolsonarista ali presente: “Não vamos admitir injustiças com o nosso capitão. Não acredito que um presidente da República fique inelegível pelo que falou. Isso não existe em nenhum lugar do mundo. Bolsonaro vai seguir firme e será o nosso candidato nas próximas eleições”, concluiu.