O Fantástico teve acesso com exclusividade a uma nova carta da mãe do menino Henry, Monique Medeiros, escrita na cadeia. Assim como o primeiro relato, esta segunda mensagem traz uma versão diferente do depoimento que Monique prestou à polícia. Ela conta o que teria acontecido nos dias que se seguiram à morte de Henry e acusa o seu primeiro advogado de ter montado uma farsa.
A mãe de Henry escreveu novos textos na prisão. Os advogados afirmam que a única forma de contato com Monique Medeiros na semana passada foi por escrito. Em depoimento, Monique mentiu à polícia.
“A carta é uma forma de mostrar a importância de um depoimento dela. A carta desdiz muita coisa que foi dita num momento completamente distinto do atual”, destaca a defesa.
Os advogados afirmam que nos últimos dias, Monique também escreveu uma carta emotiva para o filho. E pediu que não fosse divulgada. E também escreveu ao delegado Henrique Damasceno, responsável pelo inquérito, para a família dela e para Leniel, pai do menino.
"Eu estou sendo apedrejada na cadeia! Todos os dias elas gritam dizendo que vou morrer e que irão me matar, pois acreditam que eu deixava o Jairinho bater no Henry", diz um trecho.
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Monique afirma que no dia da morte do filho, 8 de março, acreditava que ele tinha sido vítima de um acidente. E assegura que não fazia ideia que estava levando o filho morto para o hospital.
“Em nenhum momento passou pela minha cabeça que meu filho poderia estar sem vida em meus braços”, diz um trecho da nova carta.
Ela só receberia a notícia no hospital, de uma enfermeira. “Depois da notícia, a funcionária disse que precisaria da presença da pediatra dele para dar o atestado de óbito e Jairinho por ser médico se prontificou a fazer a fim de ajudar”, destaca outra trecho.
Monique conta que Leniel Borel, o pai de Henry, ficou encarregado de ir à delegacia, enquanto ela e Jairinho cuidariam do velório do filho. E que Leniel foi para o IML, onde foi realizado o exame de necrópsia. “Leniel me ligou dizendo que havia alguma coisa errada com o exame do Henry. Que estava constando: laceração hepática, por uma ação contundente e hemorragia interna”, relata outro trecho da carta.
"E aí eu mostrei pra ela e falei: olha só, Monique. Tá vendo aqui. Isso aqui não é natural. O policial tava próximo e eu falei: isso é natural? Não. Isso é uma agressão. Ela não falou nada, Carlos. Nada ela falou naquele momento. Ficou quieta. Depois foi pra fora do IML ali e ficou chorando com o irmão mas não falou nada", relembra Leniel.
“Jairinho chegou cedo na minha casa, ficou me fazendo companhia e pediu para perguntar ao Leniel se já tinha havido alguma resposta. Foi quando Leniel respondeu que tudo estava atrasado pois o IML estava sem abastecimento de água. Jairinho ficou indignado e disse que se fosse preciso, compraria um caminhão pipa pra ajudar (...)“, ressalta outro trecho.
A investigação mostrou que o vereador Jairinho tentou acelerar o enterro de Henry, ligou para um executivo do hospital e até para o governador, Claudio Castro. Ambos afirmam que se negaram a interceder no caso.
A carta também acusa o então advogado de Jairinho, André Barreto, de organizar uma versão inventada para a morte de Henry.
“O Dr. André se apresentou, disse que era casado, que tinha 4 filhos, que estudou para ser padre, que era religioso e que não pegava casos de homicídios se não acreditasse na inocência dos seus clientes e nos separou. Fez uma entrevista particular comigo (...). E depois, fez a mesma coisa com Jairinho separado”, diz um trecho.
“No dia seguinte, o Dr. André foi até a casa do pai do Jairinho para conversarmos, mas que só aceitaria o caso se nos uníssemos e combinássemos uma versão inventada (...). Na mesma hora eu questionei por que eu não poderia dizer o que realmente tinha acontecido, já que tinha sido um 'acidente doméstico' (...). Eu ainda não estava satisfeita e disse que falaria a verdade, que eu não via problema algum (...). Foi quando a família dele disse que aquela seria a única versão! Que o Dr. André era um excelente criminalista, que ele teria cobrado 2 milhões de reais pelo casal (mas que só depois percebi que a defesa era apenas do Jairinho).”, conta outro trecho da carta.
“Todos os meus passos eram controlados, todas as ligações que eu fazia havia alguém por perto, sempre monitorada e eu acalmava meus pais, dizendo que eram orientações do advogado. Era um controle absoluto!”, destaca outro trecho da carta.
“Ela estava sim isolada de muitas coisas e ela só pôde ter a noção da realidade muito tempo depois. Por isso a prisão dela representou de fato uma libertação dessa situação”, relatam os advogados.
Em nota, a defesa do advogado André disse que ele jamais alterou a narrativa apresentada pelo casal, desde o início de forma única.
"Depois eu vi ali a Monique falando que o Jairo tava manipulando, na verdade é o inverso. A Monique, se você for falar com qualquer amigo da Monique, a Monique é conhecida como manipuladora. Não sendo manipulada", destaca Leniel.
Uma selfie de Monique na delegacia no dia do depoimento chamou a atenção. Monique chegou a dizer que não se lembrava de ter feito a foto. Agora, os advogados apresentaram prints de uma conversa dela com uma tia.
“Na verdade, foi divulgada uma foto de Monique completamente descontextualizada. Na verdade aquilo ali se tratava de um diálogo entre ela e um de seus familiares que estava preocupado”, contam os advogados.
Monique permaneceu ao lado de Jairinho até o dia da prisão. Agora, ela conta vários episódios em que foi agredida por ele.
“Decidimos pedir uma sobremesa pelo iFood. Na hora que o entregador chegou e eu fui buscar na porta, o rapaz disse que era o dono da loja, que estavam começando e (...) desse a avaliação no iFood. Jairinho me perguntou o que o entregador tinha falado e eu contei exatamente como aconteceu (nada demais). Ele começou a me xingar de 'p***', (...) que eu não dava respeito à imagem dele. Ele pegou o telefone celular e enviou uma mensagem de voz para uma mulher amiga dele da vigilância sanitária, dizendo que tinha chegado uma sobremesa na casa dele, estragada, que ele estava passando mal (...) e pediu que ela fosse até lá, para interditar o local. Fiquei com muita raiva dele e disse: ‘já que as sobremesas estão estragadas, vou jogar fora as de morango que guardei na geladeira’. Ele me xingou de todos os nomes possíveis e impossíveis, que toda semana ele iria até o estabelecimento mandar quebrar a loja, mandar assaltar, mandar quebrar as motos das entregas, mandar bater no dono, que ele ia imprimir a foto dele e dar para seus amigos causar prejuízos até que fechasse", diz um trecho da carta.
Leniel, que recebeu também recebeu uma carta de Monique, disse que não acredita na palavra dela. "Essa Monique coitadinha que apanha e fica quieta. Não. A Monique nunca foi assim. Tá muito bem claro que ela sabia que o Henry tava sendo agredido e não fez nada, né? Não falou e não fez nada", conta.
A defesa de Jairinho não quis se pronunciar.
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