Em 2024, o Brasil registrou quase 12 mil denúncias de violência sexual contra crianças, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. Isso equivale a uma média de 320 vítimas de exploração sexual a cada 24 horas. Em muitos casos, agressores são pessoas próximas, como pais, padrastos, avôs e outros familiares, que costumam ver as crianças como meros "objetos", explica a piauiense Antonia Maria de Almeida, assistente social de educação de José de Freitas.
NEGAÇÃO DA REALIDADE
Geralmente, os familiares das vítimas "negam a realidade" por confiarem no agressor. Em outras situações, a criança é ameaçada e permanece em silêncio, é o que explica Antonia de Almeida. Ela acrescentou ainda que já atendeu casos em que os menores afirmaram não encontrar apoio dentro de casa.
“Acontece dentro do seio familiar por conta da relação de vínculo (com o acusado). A gente sabe que a criança tem essa pessoa (acusado) como referência [...] a família, por confiar naquela pessoa que abusa da criança, acha ela não teria essa coragem, ou quando a criança, por exemplo, chega para falar que aquela pessoa mexeu nela, que ela não está feliz, que ela não gosta de ficar com aquela pessoa, aí às vezes a família não acredita [...] as pessoas ainda dão credibilidade a um adulto ao invés da criança”, explica.
OBJETO DE USO
Ainda segundo a assistente social, as crianças não têm capacidade de compreender ou expressar o que está acontecendo. A vítima vê geralmente o agressor, que pode ser um pai, tio ou outro familiar, como uma figura de referência. Esses aproveitam a vulnerabilidade e a confiança que têm na criança, muitas vezes porque vivem com ela, para cometer os crimes.
“Nós que acompanhamos o histórico social de criança e adolescente, a gente observa a questão cultural, ou seja, a criança é colocada na relação familiar como objeto ou algo de controle dos adultos, uma cultura adultocêntrica, onde as crianças são ensinadas a obedecerem, a não questionar os adultos [...] a criança está em uma situação vulnerável onde aquele adulto vai oportunizar violência”, explica.
COMO ENFRENTAR O AUMENTO DE CAOS?
Uma das alternativas, conforme Antonia de Almeida, é uma melhor supervisão da família para com as vítimas, além da capacitação de profissionais nas escolas municipais e estaduais para poderem identificar e apoiar melhor as crianças. A assistente social ensina estratégias para identificar e combater este tipo de crime:
- Atenção aos sinais, porque uma criança abusada sexualmente, dá sinais nos comportamentos;
- A criança sente medo, repulsa daquela pessoa adulta;
- A família deve ensinar habilidades emocionais para que as crianças consigam reconhecer as suas emoções;
- O fortalecimento das políticas públicas, como o direito das crianças, a saúde, a alimentação, a moradia;
- O contexto social também tem muita influência sobre a violência sexual.