Instituto Sócio Ambiental publicou, ainda em abril de 2022, um relatório contendo relatos de estupro, fome e violência contra mulheres e crianças Yanomami, um resumo da brutalidade a que estão expostas. O relatório “Yanomami Sob Ataque: Garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”, foi elaborado pela Hutukara Associação Yanomami e mostra um panorama do avanço da destruição garimpeira na maior terra indígena do país.
Segundo o documento, a fome assolou a região onde os indígenas vivem e, ao pedirem ajuda aos garimpeiros ilegais, a resposta mais comum envolvia violência sexual contra crianças e adolescentes.
"Vocês não peçam nossa comida à toa. É evidente que você não trouxe a sua filha. Somente depois de deitar com a tua filha eu irei te dar comida", essa é a resposta mais ouvida pelos Yanomami quando iam pedir ajuda aos garimpeiros, segundo o documento.
Além da violência sexual, há relato de mortes das mulheres por conta da fome, malária e doenças sexualmente transmissíveis.
"Os garimpeiros estupraram muitas dessas moças, embriagadas de cachaça. Elas eram novas, tendo apenas tido a primeira menstruação. Após os garimpeiros terem provocado as mortes dessas moças, os Yanomami protestaram contra os garimpeiros e se afastaram um pouco", disse o relatório.
Como os invasores andam armados, os indígenas já não ofereciam mais resistência. Segundo os depoimentos, coletados por pesquisadores indígenas, garimpeiros estariam as abusando sexualmente após embriagar pessoas das comunidades assediadas.
Leia trechos de relatos registrados por um dos pesquisadores indígenas:
‘Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer! Você se alimentará!’.
Os [garimpeiros] dizem: ‘Essa moça aqui. Essa tua filha que está aqui, é muito bonita!’. Então, os Yanomami respondem: ‘É minha filha!’. Quando falam assim, os garimpeiros apalpam as moças. Somente depois de apalpar é que dão um pouco de comida.
Os garimpeiros têm relação somente com as mulheres que tomaram cachaça. Os garimpeiros não conseguem com as mulheres que não tomaram cachaça.”
"Terrível ameaça"
Na visão da maioria das mulheres indígenas, afirma o relatório, os garimpeiros representam uma terrível ameaça. São violentos, produzindo um clima de terror permanente nas aldeias.
“Quando as pessoas disseram que eles se aproximavam, eu fiquei com medo. Por isso, desde que ouço falar dos garimpeiros, eu vivo com angústia", conforme relata uma mulher Yanomami a uma pesquisadora indígena.
De fato, as pessoas agora pensam: ‘Depois que os garimpeiros que cobiçam o ouro estragaram as vaginas das mulheres, fizeram elas adoecer’. Por isso, agora, as mulheres estão acabando, por causa da letalidade dessa doença. É tanto assim que, em 2020, três moças, que tinham apenas por volta de 13 anos, morreram.
"Elas eram novas, tendo apenas tido a primeira menstruação. Após os garimpeiros terem provocado a morte dessas moças, os Yanomami protestaram contra os garimpeiros, que se afastaram um pouco. As lideranças disseram para eles que estando tão próximos, se comportam muito mal.”.