A nova série original do Globoplay narra a investigação que culminou na prisão de um ex-jogador da Seleção Brasileira condenado por estupro. O documentário O Caso Robinho apresenta uma entrevista inédita com a vítima e revisita cada etapa da investigação realizada na Itália, onde o crime ocorreu.
Mercedes, a vítima, concedeu sua primeira entrevista, pedindo apenas que seu rosto fosse preservado, mas autorizando o uso de seu nome e voz. Ela relembra: “Se tivesse que me descrever, diria que era como uma música brasileira, cheia de ritmo, alegria e luz. Costumo dizer que eu era cheia de cores, mas que essas cores foram desbotando com o tempo.” Em outro momento, descreve sua falta de reação durante o ataque: “Eu nem tive força para reagir. Tanto que, quando me tiraram do local, precisaram me segurar para andar.”
O documentário explora o caso em profundidade, detalhando a investigação e o processo judicial que levaram à condenação de Robinho e de Ricardo Falco por estupro coletivo. A diretora Caroline Zilberman explica que o distanciamento temporal permite uma análise aprofundada do papel do jornalismo e dos bastidores da investigação. “É um caso que gerou grande repercussão e que, ao longo de quatro episódios, nos permite reconstruir a história desde a acusação, passando pelo retorno ao Brasil e os julgamentos.”
O crime aconteceu em 2013, em uma casa de shows em Milão, onde Robinho e cinco amigos foram acusados de agredir sexualmente uma mulher albanesa. Robinho foi condenado em todas as instâncias da justiça italiana, e o processo se estendeu por oito anos, finalizando em 2022. Como a legislação brasileira impede a extradição de seus cidadãos para cumprimento de pena no exterior, o Superior Tribunal de Justiça determinou a prisão do jogador no Brasil, onde ele cumpre pena em Tremembé, São Paulo, desde março deste ano.
Os áudios interceptados pela polícia italiana foram essenciais tanto para a condenação na Europa quanto para a transferência da pena para o Brasil. Embora essas gravações já fossem conhecidas, esta é a primeira vez que o público ouve o relato da vítima. “Quando li as escutas, foi como um alívio. Li várias vezes, e foi então que percebi a frieza deles, acreditando que não seriam punidos. Se não fossem essas escutas, a verdade talvez nunca fosse descoberta.”
Ela fez um desabafo: 'Quando eu soube que ele foi preso no Brasil... nunca é uma vitória. É uma derrota para todo mundo. Principalmente para eles... para a família e para os filhos deles.'
A conversa com a equipe do documentário durou cerca de uma hora e quarenta e quatro minutos. Segundo Rafael Pirrho, diretor da série, a entrevista foi fundamental para o contexto da denúncia, já que foi o testemunho de Mercedes que impulsionou a investigação. A série inclui também entrevistas com procuradores de Milão que participaram do caso, revelando as estratégias utilizadas para obter as provas necessárias à condenação.
Nenhum dos acusados aceitou dar entrevista. Produzido em seis meses, o documentário começou a ser gravado em março deste ano, justamente quando a decisão do STJ em relação a Robinho causava grande repercussão no Brasil. O caso ainda está em andamento, com o Supremo Tribunal Federal marcado para retomar o julgamento sobre a ordem de prisão. “Se o Supremo formar maioria para manter a decisão do STJ, a pena de 9 anos imposta pela Itália será definitiva e sem recurso,” comenta Davi Tangerino, advogado e professor de direito penal. Caso contrário, Robinho poderá ser libertado no Brasil, embora a condenação na Itália continue válida.