O jejum intermitente tem ganhado popularidade nos últimos anos. Ao contrário de dietas tradicionais, que focam no que comer, essa abordagem se concentra no quando comer, alternando períodos de alimentação com intervalos sem ingestão de alimentos.
Embora muito associado ao emagrecimento, o jejum também tem chamado atenção da ciência pelos possíveis benefícios ao sistema digestivo e até à saúde mental.
O que dizem os especialistas
Ao interromper a alimentação por algumas horas, o corpo entra em um modo de “descanso digestivo”. Nesse período, é ativado um mecanismo chamado complexo motor migratório (CMM), uma série de contrações musculares que funcionam como uma “vassoura”, limpando resíduos alimentares e bactérias do intestino delgado. Esse processo só acontece durante o jejum.
No nível celular, outro fenômeno ganha força: a autofagia, um tipo de “reciclagem interna” em que as células eliminam estruturas danificadas e se regeneram. Esse processo é fundamental para a renovação de tecidos — inclusive o intestinal.
Cérebro mais atento
No cérebro, o jejum também pode gerar efeitos positivos. Sem ingestão de alimentos por algumas horas, o corpo começa a usar a gordura como fonte de energia, produzindo cetonas, um tipo de combustível cerebral associado a mais clareza mental e foco.
Além disso, há o estímulo à produção de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), uma proteína que atua como fertilizante neuronal, apoiando memória, aprendizado e bem-estar mental.
Menos inchaço, mais equilíbrio intestinal
Com o sistema digestivo em repouso, muitos relatam redução de inchaço, gases e desconfortos. Isso se deve à ação do CMM, à autofagia e ao fortalecimento da barreira intestinal, o que ajuda a manter o equilíbrio da microbiota. A chamada “névoa cerebral”, aquela sensação de confusão e cansaço mental, também tende a diminuir com a produção de cetonas e BDNF.
Não é para todo mundo
Apesar dos benefícios, o jejum intermitente não é indicado para todas as pessoas. Pode ser perigoso se feito sem critério ou orientação profissional.
É contraindicado para:
- Gestantes e lactantes
- Crianças e adolescentes em fase de crescimento
- Idosos frágeis
- Pessoas com baixo peso ou em estado de desnutrição
- Pessoas com histórico ou risco de transtornos alimentares (como anorexia e bulimia)
Nesses casos, a prática pode mascarar comportamentos restritivos e agravar distúrbios alimentares.
Com orientação, pode ser uma boa estratégia
O jejum intermitente explora processos naturais de reparo e otimização do corpo. Pode ser uma ferramenta potente de saúde para algumas pessoas, mas totalmente inadequada para outras. O segredo está menos no ato de jejuar e mais em como ele é feito: de forma informada, individualizada e com acompanhamento profissional.