Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 40% dos adultos no Brasil têm um diagnóstico de colesterol alto. Na população geral, a prevalência também é alarmante: na última pesquisa Vigitel do Ministério da Saúde que perguntou aos brasileiros sobre a dislipidemia – elevação de colesterol e gorduras no sangue –, 22,6% respondeu ser acometido pelo quadro.
Com os números alarmantes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo medicamento para o controle do colesterol ruim (LDL). O remédio injetável não substitui a tradicional estatina, mas deve ser usado em conjunto com ela. O remédio de duração prolongada, que já havia sido aprovado pela FDA, agência que regula medicamentos nos EUA, precisa ser aplicado apenas duas vezes ao ano.
O inclisiran (ou Leqvio, nome comercial do produto) é da fabricante Novartis é indicado para pacientes de com alto risco cardiovascular, ou seja, que já sofreram infarto ou AVC isquêmico. Além disso, é recomendado para adultos com hipercolesterolemia primária (colesterol alto familiar ou não familiar) e dislipidemia mista (quem tem alterações no colesterol e triglicérides).
Trata-se da primeira droga de uma nova classe medicamentosa que usa interferência de RNA (RNAi) para aumentar a capacidade do fígado de remover o colesterol ruim do sangue, o LDL. Segundo a cardiologista Roxana Mehran, do Instituto Cardiovascular da Universidade Mount Sinai School of Medicine, o inclisiran representa inovação e avanço no controle do colesterol. “São ministradas duas doses ao ano. Os estudos mostram que ele reduz mortalidade e eventos cardiovasculares (infarto e AVC)”, resume.
Como funciona?
O inclisiran é administrado no consultório como uma injeção subcutânea a cada seis meses. Estudos mostraram que essas duas aplicações ao ano já são suficientes para reduzir, em média, 52% dos níveis de colesterol ruim (LDL) de forma efetiva. A droga atua de forma diferente de outras terapias, impedindo a produção da proteína-alvo (PCSK9) no fígado, aumentando a captação hepática de LDL e eliminando-o da corrente sanguínea.
Dezessete meses após iniciado um estudo clínico, oito em cada dez pessoas que tomaram inclisiran associada à estatina atingiram a meta de colesterol recomendada, inferior a 70 mg/dL. Já só duas em cada dez pessoas que tomaram placebo, associado à estatina, alcançaram a meta. Vale frisar que o medicamento atua de forma diferente de outras terapias, impedindo a produção da proteína-alvo no fígado, aumentando a captação hepática de LDL e eliminando-o da corrente sanguínea.
Efeito colateral e valor
O inclisiran foi bem tolerado, segundo a Novartis, que fabrica a medicação. Entre os efeitos colaterais observados, as reações no local da injeção foram as mais frequentes. Os demais foram geralmente leves, e nenhum foi grave ou persistente. O custo do inclisiran é alto, informou a cardiologista Roxana Mehran, embora a Novartis não tenha divulgado o valor da medicação no Congresso Mundial de Cardiologia. Nos Estados Unidos, o tratamento chega a custar até US$ 6.000 por ano.