Aviões foram usados em 'bombardeio nas nuvens' para 'fazer chover' no Ceará

Entre as décadas de 1980 e 1990, eram realizados cerca de 20 voos anuais, cada um transportando aproximadamente 800 litros de solução em dois tanques.

Diante do desafio enfrentado pelas constantes secas na região, uma missão ambiciosa despertou a esperança de meteorologistas e da população cearense em 1972. A Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais, hoje conhecida como Funceme, surgiu com o propósito de explorar a nucleação artificial de nuvens, uma técnica popularmente conhecida como "fazer chover".

Essa tecnologia, também chamada de bombardeamento, pulverização ou semeadura de nuvens, teve sua origem nos estudos conduzidos na Universidade Federal do Ceará (UFC). Ao longo de quase 30 anos, a Fundação implementou essa abordagem, utilizando aeronaves que percorriam todo o Estado.

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O processo consistia na dispersão de substâncias como cloreto de sódio (sal de cozinha) ou iodeto de prata pelas aeronaves, visando criar condições ideais para a formação de chuvas dentro das nuvens.

Entre as décadas de 1980 e 1990, eram realizados cerca de 20 voos anuais, cada um transportando aproximadamente 800 litros de solução em dois tanques. Os custos, na época, giravam em torno de 350 cruzados novos, conforme registros do Centro de Documentação do Sistema Verdes Mares (Cedoc), disponíveis em reportagens da TV Verdes Mares.

Apesar dos esforços, representantes da Funceme enfrentaram desafios para encontrar condições mínimas em todos os pontos passíveis de aplicação da nucleação. Bases foram construídas em Juazeiro do Norte e em Crateús para apoiar as operações das aeronaves.

O principal objetivo era auxiliar os agricultores no planejamento das plantações e conduzir estudos meteorológicos. As aeronaves eram equipadas com dispositivos para coleta de indicadores, e uma parceria foi estabelecida com a NASA para pesquisas nas áreas de queimadas na Amazônia.

Aviões usados para bombardear as nuvens no Ceará (Foto: Reprodução/TV Verdes Mares) Em entrevista ao portal Diário do Nordeste, Meiry Sakamoto, gerente de meteorologia da Funceme, explica que a técnica de nucleação busca introduzir mais núcleos higroscópicos em nuvens existentes, forçando sua rápida e ampliada evolução. Ela destaca que o monitoramento das nuvens cumulonimbus a nimbostratus era crucial para aplicar a técnica.

Entretanto, com o avanço do conhecimento, a nucleação artificial foi gradativamente excluída. Helder Cortez, primeiro operador da Estação de Tratamento de Água (ETA) Gavião e assessor da presidência da Companhia de Água e Esgoto do Ceará, lembra de uma tentativa em 1983, durante a seca, que não apresentou resultados conclusivos.

O programa foi encerrado devido aos custos e à falta de eficácia comprovada. A discussão persiste sobre a verdadeira influência dessa técnica nas mudanças na dinâmica da chuva na região, marcando uma ambiciosa e intrigante página na história da meteorologia no Ceará.

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