Em 5 de julho de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião com integrantes do alto escalão do governo federal, assessores e outras figuras próximas. A gravação desse encontro foi encontrada pela Polícia Federal em um computador pertencente ao tenente-coronel Mauro Cid, que na época exercia a função de ajudante de ordens da Presidência. Segundo a PF, essa gravação revela um esquema golpista dentro da alta cúpula do governo.
Durante a reunião, diversas questões antidemocráticas foram levantadas, embora alguns participantes aleguem não se recordar do conteúdo das conversas ou afirmem que as discussões foram em tom de desabafo.
Jair Bolsonaro foi apontado pela PF como um dos organizadores do encontro com teor golpista. Documentos encontrados na sede do PL, partido do ex-presidente, indicam a elaboração de um plano para decretar estado de sítio no Brasil e implementar um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A defesa de Bolsonaro não comentou sobre a gravação da reunião, mas afirmou que o ex-presidente não costuma ler textos em seu telefone celular devido ao tamanho da tela e à necessidade de uso de lentes corretivas.
O deputado federal Filipe Barros, presente na reunião, acusou um servidor do TSE de atrasar a entrega de dados do sistema de votação após um suposto ataque hacker. Ele relatou que Bolsonaro pediu apoio público aos ministros para pautas defendidas pelo governo, incluindo a PEC do voto impresso.
"Em tom de desabafo, mas fiel ao ordenamento constitucional, o presidente Jair Bolsonaro pediu a todos seus ministros que reforçassem o apoio público a pautas defendidas pelo governo. Entre elas, a PEC do voto do impresso, da qual fui relator e, por estar nessa condição, passei brevemente pelo encontro – que, aliás, não aconteceu na surdina, como é praxe dos que hoje sentam no Planalto. Por poucos minutos, atualizei todos os ministros sobre o tema. A minha participação se resumiu a isso", disse.
O tenente-coronel Marcelo Câmara, que também participou do encontro, foi preso preventivamente pela PF, acusado de integrar um núcleo de inteligência paralela que monitorava o ministro Alexandre de Moraes, do STF, com o objetivo de detê-lo após a assinatura de um decreto de golpe de Estado. Sua defesa afirmou que ele não se recorda dos fatos ocorridos durante a reunião.
Ao O Globo, o advogado Luiz Eduardo Kunts, disse que o tenente-coronel Marcelo Câmara não se recorda dos fatos ocorridos durante a reunião de teor golpista. “Não temos lembranças deste fato. Com o acesso aos elementos de prova que estão nos autos, faremos um exercício de memória e poderemos responder a este e outros temas que sejam relevantes.”, afirmou o advogado do tenente-coronel.
O general Paulo Sérgio Nogueira, então Ministro da Defesa, declarou durante a reunião que a pasta estava na "linha de contato com o inimigo", referindo-se à participação na comissão eleitoral do TSE. O Exército informou que Nogueira está na reserva e não possui contato disponível. Ao GLOBO, o Exército afirmou que o general Paulo Sérgio Nogueira se encontra na reserva, e o Centro de Comunicação Social "não possui seu contato".
O tenente-coronel Mauro Cid, cujo computador continha a gravação da reunião, fez uma delação premiada com a PF. Sua defesa argumentou à Globonews, que ele era apenas um secretário e cumpria ordens, e que a reunião evidenciou quem detinha o poder nos militares e ex-ministros investigados pela PF por planejarem um golpe de Estado.
“O Cid não tem essa capilaridade toda. Todo mundo viu a sessão do Bolsonaro determinando ordens, investigação, faz isso, faz aquilo. O Cid era apenas um secretário. Cumpria ordens e fez o seu papel como secretário [...] Essa reunião do Bolsonaro é extraordinária. Quer prova melhor que isso?", disse Cezar Bitencourt, advogado de Cid.
Outros participantes da reunião, como o ex-ministro Paulo Guedes e o ex-secretário-executivo Bruno Eustáquio, preferiram não comentar sobre o teor do encontro. O GLOBO tentou contato com outros integrantes da reunião, mas não obteve resposta até o momento.
Com informações de O Globo.