O vereador Camilo Cristófaro (Avante), conhecido por sua voz estridente e sotaque característico da Mooca, tradicional bairro da zona leste de São Paulo, enfrenta a possibilidade de se tornar o primeiro vereador do Brasil a ser cassado por racismo. Nesta terça-feira (19), ele será julgado pelos seus pares na Câmara Municipal de São Paulo por ter proferido comentários racistas durante uma sessão virtual em maio de 2021, afirmando que não limpar calçadas era "coisa de preto".
Camilo, que já enfrentou acusações anteriores, incluindo o uso de laranjas como doadores de campanha, insultos a colegas vereadores e alegações de envio de dinheiro em uma sacola para um secretário de Transportes, conseguiu evitar punições em todos esses casos.
Para que sua cassação por quebra de decoro parlamentar seja efetivada, 37 dos 55 vereadores precisam votar a favor. No entanto, de acordo com membros da Câmara, Camilo tem uma longa história de atuação nos bastidores da política municipal e é considerado um "arquivo vivo", com o potencial de retaliar antigos aliados em caso de derrota, o que torna o resultado da votação incerto.
Camilo Cristófaro, de 62 anos, é advogado de formação e possui uma base eleitoral no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo. Sua trajetória política remonta aos anos 1970, quando se aproximou do ex-presidente Jânio Quadros. Durante o mandato de Jânio como prefeito de São Paulo, Camilo ocupou seu primeiro cargo público, chefiando o gabinete do prefeito entre 1986 e 1989.
Proximidade com políticos
Nos anos seguintes, Camilo manteve estreita relação com políticos e obteve indicações para cargos públicos. Em 2000, durante a gestão do ex-prefeito Celso Pitta, ele presidiu a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Entre 2002 e 2004, ocupou a posição de diretor da Empresa de Tecnologia, Informação e Comunicação do Município (Prodam) na administração de Marta Suplicy, então filiada ao PT.
Em 2007, Camilo fez a transição dos bastidores para o Legislativo e assumiu a chefia de gabinete da presidência da Câmara Municipal, cargo que ocupou sob três presidentes subsequentes: José Police Neto (PSD), José Américo (PT) e finalmente deixou o cargo em 2014.
Foi apenas em 2016 que Camilo se lançou nas urnas pela primeira vez, com uma campanha focada em combater uma fictícia "indústria da multa" na cidade de São Paulo. Nessa eleição, recebeu 29.603 votos. Em 2020, conseguiu a reeleição.
Camilo declarou um patrimônio de R$ 1,2 milhão à Justiça Eleitoral, embora seja amplamente conhecido na Câmara por sua coleção de Fuscas. Em 2016, ele declarou possuir 26 automóveis desse modelo ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
A carreira de Camilo também foi marcada por polêmicas. Em 2017, apenas três meses após assumir o cargo de vereador, ele foi flagrado em uma série de agressões verbais à então vereadora Isa Penna (PSol) no elevador privativo da Câmara. As imagens das agressões circularam nas redes sociais, mas o caso foi arquivado pela Câmara.
No mesmo ano, em novembro, ocorreu outra polêmica quando o então secretário de Transportes, Sérgio Avelleda, chamou a polícia após receber um pacote de "presente" do vereador Camilo. Ao abrir o pacote, Avelleda encontrou maços de dinheiro no valor de R$ 3 mil, mas o caso foi encerrado após o assessor de Camilo alegar que "havia se confundido."
Em 2018, o TRE determinou a perda do mandato de Camilo por ter utilizado o CPF de uma pessoa que se declarava em situação de pobreza (e recebia auxílios federais) para justificar cerca de R$ 6,5 mil recebidos por sua campanha. No entanto, em fevereiro do ano seguinte, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época, suspendeu a decisão após um pedido da defesa do parlamentar.
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