A Procuradoria-Geral da República (PGR) está investigando a possível corrupção de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro e atual deputado federal pelo PL. A suspeita é de que ele tenha se corrompido para evitar a divulgação de informações sobre o uso irregular do software espião First Mile, que teria sido empregado para monitorar opositores e críticos do ex-presidente.
Conforme relatado pela Folha de S. Paulo, dados sobre as atividades de Ramagem foram fundamentais para a deflagração da Operação Última Milha pela Polícia Federal em 20 de outubro. Na operação, foram presos os servidores da Abin Eduardo Izycki e Rodrigo Colli, acusados de coerção ao utilizar o conhecimento sobre o software espião para evitar demissões em um processo disciplinar interno. Ramagem não foi alvo direto da ação da PF.
A PGR aponta indícios de concussão e corrupção ativa por parte de Izycki e Colli, e corrupção passiva por parte de Ramagem. A investigação da PF abrange irregularidades na Abin desde a compra do software em 2018, no governo de Michel Temer, até tentativas de obstrução interna, resultando em monitoramento indevido de diversas pessoas entre 2019 e 2021.
A PGR afirma que houve "apropriação indevida da Abin por parte dos altos gestores" para fins ilícitos. Izycki e Colli eram investigados internamente na Abin por sua atuação em uma licitação do Exército, utilizando uma empresa em nome de parentes.
Segundo a PGR, Izycki e Colli, cientes do uso indevido do software First Mile, teriam pressionado Ramagem a retardar o julgamento do processo disciplinar. Ramagem teria convertido o julgamento em diligência, nomeando uma nova comissão processante, e deixado de submeter as conclusões da primeira comissão ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
A defesa de Ramagem alega ter representado na Polícia Federal para obter informações sobre as alegações. A Abin declara ter deixado de usar o software em maio de 2021 e colabora com as investigações. A defesa de Izycki e Colli não comenta o caso, alegando sigilo nas investigações.