PF expõe que Bolsonaro mentiu sobre guardar joias na fazenda de Piquet

As investigações da Polícia Federal revelaram que o kit de joias foi entregue a uma casa de leilões em Nova York.

Jair Bolsonaro mentiu sobre o paradeiro de joias presentes do governo da Arábia Saudita. | Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O relatório da Polícia Federal (PF) que indiciou Jair Bolsonaro e outros 11 aliados no caso das joias revelou que o ex-presidente mentiu sobre o paradeiro de um dos kits presenteados pelo governo da Arábia Saudita. De acordo com a PF, Bolsonaro afirmou falsamente que os itens estavam guardados em uma fazenda do ex-piloto de F1 Nelson Piquet, mas a verdadeira intenção era enviar as joias para os Estados Unidos e leiloá-las.

Em depoimento em 5 de abril de 2023, Bolsonaro declarou não ter ficado com as joias e negou tê-las levado aos EUA quando deixou o Brasil ao final de seu mandato. Ele afirmou que o kit da marca Chopard, contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um masbaha e um relógio, estava em seu acervo presidencial na fazenda de Piquet, localizada no Lago Sul, Brasília.

Leia Mais

No entanto, as investigações da PF revelaram que o kit foi levado para a Flórida no avião presidencial. Já nos EUA, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid entregou as joias à Fortuna Action House, uma casa de leilões em Nova York. Os itens foram leiloados em fevereiro de 2022, mas não foram vendidos.

O relatório da PF também aponta que o desvio do kit do acervo presidencial foi facilitado por Marcelo Vieira, então chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência. Os itens entraram no Brasil sem complicações, ao contrário de outro kit feminino da Chopard, apreendido pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) em outubro de 2021.

DEVOLUÇÃO DOS BENS

Após a divulgação do segundo kit e a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) para a devolução dos bens ao poder público, Bolsonaro e seus aliados iniciaram uma operação para recuperar as joias nos EUA. O plano, descrito como “operação clandestina” no relatório, visava evitar a suspeita de que os itens estavam no exterior, contrariando a versão de Bolsonaro de que estavam na fazenda de Piquet.

Cid recuperou as joias na sede da Fortune e as levou para a Flórida, onde Bolsonaro estava morando. O kit foi devolvido em 4 de abril de 2023, um dia antes do depoimento de Bolsonaro à PF, no qual ele negou ter levado as joias para os EUA.

CONVERSAS NO WHATSAPP EXPÕEM ESQUEMA

Conversas no WhatsApp entre Cid e Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, revelaram discussões sobre a irregularidade das transações. Em uma mensagem de 13 de fevereiro de 2023, Câmara relatou a Cid que Marcelo Vieira havia explicado que, embora Bolsonaro pudesse dispor dos presentes pessoalmente, qualquer transação no exterior exigiria aviso prévio para evitar problemas legais. A defesa de Bolsonaro afirmou que ele nunca teve a intenção de se apropriar de bens públicos.

Outro kit, contendo um relógio Rolex, uma caneta Chopard, abotoaduras, um anel e um masbaha, também foi ocultado. O relógio foi vendido em uma loja na Pensilvânia e posteriormente recomprado por Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro. Este kit foi presenteado durante uma viagem ao Oriente Médio em outubro de 2019.

A defesa de Bolsonaro expressou indignação com a alegação de que ele teria tentado se beneficiar de bens avaliados em R$ 25 milhões, valor corrigido para R$ 6,8 milhões pela PF após a repercussão midiática. Eles também argumentam que o caso deveria tramitar na Justiça de Guarulhos, não no Supremo Tribunal Federal (STF), como defendia inicialmente a Procuradoria-Geral da República (PGR), posição que foi posteriormente revista.

Carregue mais
Veja Também
Tópicos
SEÇÕES