O padre Júlio Lancellotti, amplamente reconhecido por sua atuação junto à Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, entrou com uma ação judicial contra a vereadora Janaina Ballaris (União Brasil), de Praia Grande (SP), por calúnia e difamação. O processo, motivado por declarações feitas por Janaina durante uma entrevista à rádio CBN em dezembro de 2024, pede R$ 30 mil de indenização por danos morais.
O cerne da polêmica
A controvérsia teve início quando padre Júlio compartilhou um vídeo em que Janaina orientava moradores a não oferecerem comida ou dinheiro a pessoas em situação de rua. No vídeo, a vereadora afirmava que havia diferença entre "assistência" e "assistencialismo", e mencionava diretamente o trabalho do padre:
"O assistencialismo é fazer o que o padre faz, que é louvável, dar comida, mas dar assistência é você encaminhar", disse ela, acrescentando ainda: "O assistencialismo é fácil, você faz bonito para todo mundo ver."
Em seguida, a vereadora insinuou que o religioso estaria “fazendo política revestido de uma manta religiosa” e sugeriu que ele receberia recursos do governo, afirmações que, segundo os advogados do padre, ferem sua honra e o associam de forma velada a práticas criminosas.
As versões em conflito
Padre Júlio afirma que as declarações da parlamentar desmereceram seu trabalho pastoral e contribuíram para uma onda de ataques nas redes sociais. Seus advogados destacam que o compartilhamento do vídeo foi feito com o intuito de discutir políticas públicas, mas acabou provocando interpretações distorcidas e comentários ofensivos que prejudicaram sua imagem.
Por outro lado, Janaina Ballaris sustenta que foi mal interpretada, e que o vídeo compartilhado por padre Júlio estava fora de contexto. A vereadora alega ter sido vítima de cancelamento online, provocado pela repercussão negativa do episódio, e diz que tentou, sem sucesso, um diálogo direto com o padre para esclarecer a situação.
Disputa que reflete um debate nacional
O embate entre padre Júlio e a vereadora Janaina expõe um conflito mais amplo sobre como lidar com a população em situação de rua. De um lado, o padre defende ações diretas e acolhedoras, baseadas em presença e solidariedade. Do outro, Janaina propõe encaminhamento institucional como política pública prioritária.
A disputa judicial também levanta questões sobre os limites da crítica política dirigida a figuras religiosas e o direito à proteção da reputação pessoal. Ainda não há data marcada para julgamento do caso, mas a repercussão evidencia a polarização crescente entre diferentes visões sobre assistência social no Brasil.