Lula põe em xeque a supremacia do dólar, por José Osmando

A visita do presidente Lula à China pode significar não apenas bons negócios, mas uma profunda mudança na supremacia do dólar norte-americano.

Lula está na China em busca de parcerias comerciais | Ricardo Stuckert
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A viagem que o presidente Lula faz à China, neste momento, pode significar não apenas bons negócios para os dois países, fortalecendo os interesses diplomáticos e comerciais, mas uma profunda mudança na supremacia do dólar norte-americano, que historicamente tem garantido aos Estados Unidos exercerem marcante influência em praticamente todo o mundo, ao impor sua moeda como instrumento único das relações de trocas entre nações. 

Durante a posse da ex-presidente Dilma Roussef como presidente do Novo Banco do Desenvolvimento (NDB), Lula usou seu discurso para fazer duras acusações a instituições financeiras tradicionais, como o Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, e criticou fortemente a dependência internacional do dólar. Ele defendeu que países em desenvolvimento passem a adotar mecanismos para financiamento de projeto e exportação em suas moedas locais. 

Lula fez um instigante questionamento: ”Quem decidiu que era o dólar a moeda a prevalecer no mundo depois que desapareceu o ouro como padrão? Por que não foi Yene? Por que não foi o Real? Por que não foi o peso? Porque as nossas moedas eram fracas...Por que hoje um país precisa correr atrás do dólar para poder exportar, quando ele poderia exportar sua própria moeda e os bancos centrais de cada país certamente poderiam cuidar disso...?” 

E concluiu: "É difícil, porque tem gente mal-acostumada, porque todo mundo depende de uma única moeda. Eu acho que o século 21 pode mexer com a nossa cabeça e pode nos ajudar, quem sabe, a fazer as coisas diferentes".  

Mexendo em vespeiro

Certamente, com sua posição, Lula mexe num vespeiro, com poder de provocar reações de ira, mas igualmente de apoio a uma ideia que interessa a incontáveis nações subjugadas ao domínio do dólar, ansiosas por libertação. 

O dólar é a moeda de reserva internacional por dois motivos. Primeiro, os países membros da OPEP aceitam dólares em troca de petróleo. E a precificação da OPEP em dólares é a principal unidade de conta para todos os mercados de petróleo. Isso representa um tremendo subsídio para o Tesouro dos Estados Unidos. É também um subsídio para o Fed.   

Base monetária

Tal arranjo permite que o Fed (Federal Reserve) tenha muito mais liberdade para expandir a base monetária, pois, como todos os países estrangeiros têm de comprar dólares para comprar petróleo, a demanda por dólares é garantida, e isso faz com que a expansão monetária do Fed não gere grandes repercussões sobre o valor internacional do dólar.

O status de moeda de reserva internacional do dólar está ligado à capacidade do governo dos EUA de controlar os grandes países exportadores de petróleo do Oriente Médio. A indústria bélica americana vende aviões e armas para estes regimes feudais exportadores de petróleo. Isso significa que esses regimes são dependentes do governo americano. Eles têm de comprar peças de reposição para suas armas. Eles têm de pagar por cursos de treinamento e outras tecnologias, os quais são fornecidos pelos EUA. E eles têm obviamente de pagar em dólares.  

Problema globalizado

Mas o problema não fica apenas com os árabes. Países como o Brasil, que também são produtores de petróleo, têm historicamente seus negócios de exportação e importação feitos em dólar. Essa dolarização acaba influenciando drasticamente os preços ao consumidor final em amplos sentidos, tornando a vida das pessoas mais difícil, reforçando uma dependência que impede o país de avançar. 

Lula, com suas falas e suas posições políticas, como faz agora ao colocar em xeque a supremacia do dólar, mostra coragem para mudar questões que afetam nações em todo o mundo, mas que não foram até hoje enfrentadas com determinação e clareza. Deste modo, o presidente do Brasil recoloca o país na cena positiva mundial, com notável papel de liderança.

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