O renomado cientista político Alberto Carlos Almeida concedeu entrevista nesta sexta-feira, 21 de outubro, no Jornal Agora. Na ocasião, ele reafirmou a projeção de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o vitorioso do pleito do próximo dia 30 de outubro. De acordo com o analista, as pesquisas de intenção de voto erraram no primeiro turno ao não captar o voto bolsonarista; e agora, erraram no início do segundo turno ao trazer uma vantagem de 10/8 pontos percentuais para Lula. Assim, Alberto Carlos Almeida destrincha que a diferença entre os dois sempre esteve em torno de 4/5 pontos, e que somente os levantamentos estão realizando essa correção.
"Elas erraram realmente, essa coisa que é um filme, nós vimos um filme antes do primeiro turno; o filme vem lá atrás, do ano passado. As pesquisas acertaram uma coisa e erraram em outra, ambas são importantes, o que elas acertaram? Acertaram na liderança de Lula e o segundo lugar de Bolsonaro; e acertaram outra coisa nessa liderança: uma grande estabilidade, não houve mudança abrupta da liderança de Lula, nem Lula subiu muito, nem caiu muito; e Bolsonaro no ano passado, durante o ano passado até dezembro piorou um pouco, de dezembro a março melhorou e ficou estável de março até o primeiro turno, então essa história as pesquisas contam corretamente, as principais certamente. Qual é a parte errada da história? A diferença em que estava Lula de Bolsonaro", afirmou.
Alberto Carlos Almeida sinalizou que compilou todas as pesquisas de março até o primeiro turno das eleições, detalhando que elas enfrentaram um problema metodológico. Em tal âmbito, o cientista político sinaliza a correção que tem sido feita pelos institutos, frisando que a distância entre Lula e Bolsonaro não caiu, ela sempre esteve margem de 4 a 5 pontos percentuais.
"Eu compilei todas as pesquisas públicas e vi que de março até o primeiro turno apontavam uma vantagem média de Lula para Bolsonaro de dez pontos percentuais, e nas urnas foram cinco. Então as pesquisas foram incapazes de medir corretamente a intenção de voto de Bolsonaro, isso foi um fato no primeiro turno, não há o que dizer, quem argumentar para dizer que as pesquisas não erraram fala que o eleitor mudou de voto na última hora: não, ele não mudou de voto; houve um problema metodológico nas principais pesquisas que elas inflaram, que não conseguiram chegar ao eleitor do Bolsonaro; e chegaram mais no eleitor de Simone Tebet e de Ciro Gomes; isso foi o erro, e isso foi um erro no primeiro turno. E eu já detectei o erro do segundo turno; várias pesquisas começaram inteiramente erradas, dando de Lula para Bolsonaro uma vantagem de 10 pontos percentuais, 8 pontos percentuais, isso também nunca aconteceu, tanto é que elas corrigiram agora; agora essas mesmas pesquisas tão dizendo que a vantagem é de 5/4 pontos, e todo mundo acha que Bolsonaro se aproximou de Lula, não, não se aproximou, desde que acabou o primeiro turno a distância de Lula para Bolsonaro é a mesma, e ela é muito parecida com o resultado das urnas, então as pesquisas contaram para toda a sociedade brasileira uma história errada, e agora contam uma história de que Bolsonaro se aproximou de Lula, quando não é verdade, isso se deve ao erro das primeiras pesquisas realizadas depois do primeiro turno", reverberou.
Criminalização dos institutos de pesquisa
Questionado sobre a proposta de criminalizar os institutos de pesquisa pelos erros, o analista classificou como um absurdo, indicando, porém, que as empresas não podem ficar paradas no tempo, havendo a necessidade de uma análise científica na base de dados.
"Criminalizar é um absurdo, não faz um menor sentido, creio que isso não vai acontecer. As empresas de pesquisa são muito defensivas em relação a isso, eu vejo gente de empresa de pesquisa dizendo que a metodologia é perfeita, isso é um absurdo também, como se você tivesse estabelecido lá atrás uma metodologia, e quando você erra não é culpa da metodologia, é do eleitor, será mesmo? Claro que não. Quem mais acertou foram as empresas que fizeram pesquisa por telefone, e porque a pesquisa por telefone acertou mais? Nem quem fez a pesquisa sabe", afirmou.
O cientista política crê que a tendência é de um acerto maior no segundo turno. "Agora no segundo turno a tendência das pesquisas, fazendo a ponderação correta, é acertar mais. Eu acho que o debate seria importante, o que acredito que não vai acontecer. O que ocorreu nos Estados Unidos? Você estabelece um Comitê de Especialistas, que não tenha relação com a pesquisa, você solicita o banco de dados, e realizar um estudo sério sobre o que realmente aconteceu, mas creio que infelizmente não vai acontecer. Eu lamento (proposta da criminalização), acho a criminalização um absurdo, mas também errado que não haja uma análise científica da base de dados das pesquisas. O que não pode é você ficar congelado no tempo", sintetizou.
Para Alberto Carlos Almeida, o ex-presidente permanece sendo o favorito, destacando que o eleitorado tem uma rigidez muito grande. - Acredito que Lula permanece sendo favorito, o eleitorado tem uma rigidez grande, a decisão mais difícil é a de primeiro turno; os candidatos do segundo turno vão ter que buscar os votos que não eram deles. Lula permanece sendo favorito -, complementou.
Efeito de mídia
O cientista político não acredita que aparece um fato novo que altere o resultado das eleições, como aconteceu em 2004 na Espanha. - O efeito de mídia é uma coisa que se dissipa, é um noticiário muito negativo sobre alguém, ou muito positivo, que passa um tempo e chega a estaca zero diante do noticiário. Isso aconteceu nas eleições da Espanha de 2004, aconteceu um atentado na quinta, o Partido Conversador caminhava para vencer e acabou perdendo, esse efeito de mídia se dissiparia, caso contrário não alteraria o resultado da eleição; precisa acontecer algo dessa magnitude no Brasil, o que eu acho improvável -, disse.
Alberto Carlos Almeida sinalizou sobre os boatos que circulam na internet sobre invasões em igrejas, mas ele não vislumbra uma possibilidade disso ocorrer. - Vi gente falando que a campanha de Bolsonaro irá colocar pessoas vestidas de vermelho para invadir igrejas, eu acho que isso não vai acontecer, se tiver isso se formado, vai vazar -, comentou.
DEBATES - O analista vê que os debates só teriam uma influência de virada, caso algum candidato tivesse um desempenho bem superior ao outro, o que ele não vê como provável no momento. - Pelas pesquisas os indecisos são da ordem de 1%. O debate da Rede Globo tende a ter muita audiência certamente no início; claro que isso pode ter influência, mas são candidatos que têm experiência de debate, que torna improvável que um vai se sair muito melhor que o outro. Para que um debate tenha influência é preciso que um candidato seja melhor em todos os blocos, o que acho improvável -, concluiu.