A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou nesta terça-feira (4) duas indicações feitas pelo presidente Lula para a diretoria do Banco Central (BC). Gabriel Galípolo, escolhido pelo governo para o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central, foi referendado por 23 votos a 2. Já Ailton de Aquino Santos, que assume a Diretoria da Fiscalização da instituição, ganhou por 24 a 1.
Os nomes foram aprovados após sabatina. Agora, as indicações seguem para votação no plenário principal do Senado. No total, 81 senadores darão a palavra final sobre os escolhidos.
As sabatinas de Galípolo e de Ailton de Aquino ocorrem em meio a críticas de Lula e integrantes do governo ao presidente da instituição, o economista Roberto Campos Neto, e à taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do BC.
No entendimento do governo, a Selic no patamar atual, de 13,75% ao ano, afasta investimentos e prejudica o crescimento da economia no país. Além de Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e diversos ministros, entre os quais Fernando Haddad (Fazenda) e Carlos Fávaro (Agricultura), recorrentemente têm feito críticas à taxa de juros.
Galípolo já é cotado para substituir o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Seu mandato termina no fim de 2024. Ex-secretário do Ministério da Fazenda ele afirmou, durante a sabatina, que não cabe a um economista "impor o que ele entende ser o destino econômico" de um país, sem considerar a "vontade democrática" da classe política eleita pelo povo.
"Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que ele tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática e de seus representantes eleitos”, afirmou Galípolo à CAE. "Talvez seja preciso se entender que é óbvio que é o poder eleito democraticamente, a vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade", disse o indicado.
Questionado sobre a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso, Galípolo afirmou que não é dever de diretores da instituição opinar sobre a medida, apenas acatar a legislação.
Também na sabatina, o indicado para a Diretoria de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos, disse que o setor tem enfrentado uma diminuição no número de servidores na última década.
"Não houve aumento do quadro de servidores. Pelo contrário, há 10 anos tínhamos na área de supervisão 1.100 servidores, hoje não chega a 650. Quase um terço desses podem se aposentar ou estão aptos a se aposentar no próximo ano. A média de idade da área de supervisão gira em torno de 50 anos, padrão no restante do Banco Central", disse.
Ailton Santos, que, se for aprovado pelo Senado, será o primeiro negro a ocupar um cargo na diretoria do BC, também defendeu aumento na remuneração dos funcionários da instituição.
"Impraticável manter a excelência sem recursos humanos em número, grau, expertise e níveis remuneratórios compatíveis com as responsabilidades alocadas à autarquia. Esses são pontos que precisam ser equacionados", disse.