O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou em delação premiada que o general da reserva Mário Fernandes foi um dos principais incentivadores de uma medida de intervenção contra a democracia nos meses que sucederam a eleição de 2022. Segundo Cid, Fernandes exercia forte pressão sobre Bolsonaro e chegou a ser cogitado para punição pelo então comandante do Exército, Freire Gomes, devido à sua postura ostensiva.
Detalhes
A delação, tornada pública nesta quinta-feira (20) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, revelou detalhes sobre um plano de ruptura institucional e um suposto esquema de atentados contra autoridades. Fernandes, que atuou como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, foi apontado como um dos coordenadores dessas ações, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Punha Verde e Amarelo
De acordo com as investigações, o general estaria envolvido na articulação de um plano denominado "Punhal Verde e Amarelo", que previa atentados contra o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Fernandes também teria servido como elo entre os manifestantes acampados em quartéis pelo país e setores do governo federal e das Forças Armadas.
Braga Netto
Outro nome citado na delação foi o do general Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022. Cid revelou que Braga Netto manteve contato diário com o ex-presidente após a derrota eleitoral e que foi na casa dele que, em novembro de 2022, ocorreu uma reunião inicial sobre os atentados. O encontro teria contado com a presença de dois coronéis do Exército, Rafael Oliveira e Ferreira Lima.
Envolvimento indireto
Cid relatou que, apesar de não ter participado diretamente do planejamento dos atentados, foi responsável por atender a algumas demandas dos envolvidos. Ele contou, por exemplo, que recebeu R$ 100 mil em espécie no Palácio do Planalto, entregue por Braga Netto e supostamente obtido com empresários do agronegócio, para viabilizar o plano.
Sem participação
A delação também mencionou o general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, mas indicou que ele não participou da conspiração. Segundo Cid, Ramos foi gradualmente afastado do núcleo próximo de Bolsonaro e não teve envolvimento nos planos de golpe.
Situação
Fernandes e Braga Netto estão atualmente presos, assim como outros envolvidos no caso. Ao todo, a PGR denunciou 34 pessoas, incluindo Jair Bolsonaro, sob acusações de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. (Da Agência Brasil)