A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público contra o policial militar Henrique Otávio de Oliveira Velozo e o tornou réu pela morte do campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo.
Leandro Lo morreu em 7 de agosto após ser baleado na cabeça durante um show no Clube Sírio. Velozo se entregou à Corregedoria e está detido no presídio militar Romão Gomes.
As qualificadoras do homicídio colocadas pelo órgão foram: por motivo torpe; com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; e à traição, de emboscada.
A denúncia foi aceita pela Justiça, que também decretou no dia 2 de setembro a conversão da prisão temporária de 30 dias do policial para a prisão preventiva.
Em nota, o advogado de defesa do policial, Cláudio Dalledone, afirmou que: "a denúncia é uma hipótese acusatória que destoa completamente do que foi produzido no inquérito policial e o que será desvelado na investigação judicial".
"As qualificadoras são descabidas e tudo isso ficará firmemente provado no momento em que o processo for devidamente instaurado. A conclusão do inquérito policial se deu de forma açodada, uma vez que sequer aguardou-se a produção do laudo da reprodução simulada dos fatos que, entre outras coisas, apresentou inúmeras contradições com os depoimentos das testemunhas".
No dia 31 de agosto, a polícia fez a reconstituição da morte de Leandro Lo. Entre as 16 testemunhas que participaram da simulação do crime estavam os amigos do lutador. Como o policial não foi interrogado pela polícia, ele não esteve presente.
Boate e motel
O SP2 teve acesso às imagens das câmeras de segurança que mostram Velozo na recepção de uma boate em Moema, também na Zona Sul, instantes depois de ter assassinado Lo, a pouco mais de dois quilômetros dali.
Na boate, o PM parece ter consumido uma garrafa de uísque, duas águas de coco, duas latas de energético e duas doses de gin, de acordo com a comanda, totalizando quase R$ 1,6 mil.
Uma hora e 59 minutos depois, a mesma câmera registrou a saída de Veloso, mas desta vez acompanhado por uma mulher que, segundo o delegado, é uma garota de programa.
Depois, eles foram para um motel, em Pinheiros, na Zona Oeste da cidade. Eles chegaram por volta das 5h40 de segunda-feira (8) e só saíram às 16h26.
Dois amigos próximos do lutador não quiseram gravar entrevista, mas confirmaram ao SP2 que Leandro Lo e o policial militar Henrique Veloso já tinham se desentendido outras vezes antes do dia do crime.
Em nota, o advogado de defesa afirma que as imagens precisam ser colocadas aos autos para que se possa fazer uma análise e, se necessário, até solicitar uma perícia.
"A defesa não vai permitir que se criem conclusões precipitadas, pré-julgamentos. É preciso ter cautela para que haja um julgamento justo", ressalta Claudio Dalledone.
Defesa alega legítima defesa
A defesa do policial militar afirmou ao g1 em 15 de agosto que o oficial agiu por "defesa" depois que foi cercado por seis lutadores. Os advogados de Velozo alegam também que ele foi cercado por outros seis lutadores e, por isso, reagiu.
Já a defesa de Leandro ressalta que o lutador teve uma discussão com o policial e, para acalmar a situação, imobilizou o homem. Após se afastar, o agressor sacou uma arma, atirou uma vez na cabeça do lutador e deu dois chutes em Leandro antes de fugir.
Claudio Dalledone, advogado do policial, informou também que foram solicitados exames complementares através do sangue colhido do corpo do lutador Leandro Lo .
"Requer ainda, seja realizado exame complementar de alcoolemia da vítima e no que se refere ao exame toxicólogo já determinado por Vossa Senhoria, requer seja especificada a pesquisa laboratorial para anfetaminas, codeínas, metanfetaminas, ecstasy, EPO (doping sanguíneo), heroína, morfina, cocaína, crack, hGH (hormônios de crescimento), S1 (anabolizantes) e S6 (estimulantes)", diz um trecho da petição.
"Vamos indicar assistentes técnicos que acompanharão as análises periciais e apresentarão quesitos técnicos a serem respondidos pelo Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal. Tudo deve ser apurado e cada um responderá por suas responsabilidades", disse Dalledone.
Dalledone afirmou ainda que uma rede social no aparelho celular entregue pelo PM à investigação estaria sendo acessada e modificada. O advogado pediu para que o aparelho seja restituído à família e que sejam apuradas possíveis práticas abusivas.
Em nota, a Polícia Militar informou que nenhum interno do Presídio Militar Romão Gomes (PMRG), bem como os visitantes e advogados, possui permissão de uso de aparelhos telefônicos e que o celular do policial foi apreendido no momento do registro e encaminhado ao Instituto de Criminalística (IC).
"O aparelho está protegido por senha de acesso, a qual não foi fornecida pelo investigado, portanto, o mesmo não foi acessado nem utilizado."