“Não fui eu, quem foi, eu não sei”, diz Gil Rugai para juri em julgamento

Júri chega ao seu quarto dia, no Fórum Criminal da Barra Funda. Réu responde por mortes de pai e madrasta, em março de 2004

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O estudante Gil Rugai negou diante do juiz ter cometido o assassinato de seu pai, Luís Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra Troitino. "Não fui eu, agora quem foi eu não sei", disse.

O interrogatório de Gil Rugai começou por volta das 15h50 desta quinta-feira (21). Ele é ouvido no quarto dia do julgamento, que ocorre no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo.

Em suas primeiras respostas, Gil Rugai também afirmou que nunca teve arma de verdade e que apenas encostou nelas em duas ocasiões: teve contato com uma espingarda de seu pai e também com a arma de seu instrutor quando fez um curso de tiro.

Ela disse que o relacionamento com o pai era normal. ?Não havia nenhuma animosidade?, declarou. Afirmou ainda que já tinha sido demitido dez vezes da Referência Filmes, onde cuidava da contabilidade.

Entretanto, ele ressaltou haver uma relação informal de pai para filho, o que explica o fato de ele voltar para a empresa. ?Fui demitido algumas vezes, mas por outros erros, nunca por desfalques?, disse.

Em janeiro de 2004, meses antes do crime, ele afirma ter se desligado por conta própria, mas continuou administrando as finanças pessoais do pai.

Gil Rugai afirmou que o pai apenas questionou algumas das medidas adotadas por ele, como o fato de que poderia ter negociado melhor com alguns fornecedores. Disse ainda que o pai pedia para ele usar sua assinatura. A tese do Ministério Público é que Gil fez desfalques na empresa e nas contas pessoais do pai e que isso desencadeou sua expulsão de casa, a decisão de pai de obrigá-lo a devolver o dinheiro e a ameaça de uma queixa à polícia.

Gil afirmou que nunca foi seminarista e que estudou teologia ? parou em curso no final de 2003. Disse ainda que pretendia ser padre em 2001. Também estudou letras.

Na pergunta sobre se tinha munição, respondeu: "apenas da Segunda Guerra Mundial, sem pólvora".

O depoimento do réu começou depois de outras três testemunhas ouvidas nesta quinta. Falaram o ex-sócio do réu, Rudi Otto Kretschmar; Fabrício Silva dos Santos, que atuava como vigia na Rua Traipu, parte de trás da casa de Luís Rugai; e Francisco Luiz Valério Alves, motorista do vizinho de Luís Rugai.

Outras testemunhas

Em seu depoimento, o publicitário Rudi Otto Kretschmar afirmou ter visto o réu com uma arma igual à pistola usada no crime, 15 dias antes da morte do casal. Desconfiada, um dia depois dos assassinatos, a testemunha teria ido ao local em que a arma era guardada por Gil, mas relatou não ter encontrado a pistola, em uma maleta. O ex-sócio de Gil, porém, não soube dizer se a arma que foi mostrada a ele no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para reconhecimento era verdadeira ou se era uma das armas de brinquedo que pertenciam a Gil.

Como o publicitário afirmou várias vezes que não se recordava de fatos da época do crime, o promotor Rogério Leão Zagallo leu trechos de seu depoimento à polícia dias após a morte de Luis Rugai e que foram confirmados pela testemunha. O promotor perguntou sobre o fato de Kretschmar afirmar ter visto com Gil um kit, que teria sido chamado pelo réu de ?mala de fuga?, com duas facas, um canivete, uma estrela ninja, dinheiro e selinhos com um líquido que seria ácido. O promotor questionou se não se tratava de uma brincadeira de Gil. ?Se foi brincadeira, era brincadeira séria, sem graça?. ?Gil tinha interesse em cursos de tiro?.

O ex-sócio de Gil contou ter recebido ameaças telefônicas na época do crime. ?Eram mensagens na secretária eletrônica, linguagem de ladrão de que eu poderia ser o próximo?. O publicitário confirmou trechos de seu depoimento prestado à polícia após o crime. Entre eles, afirmou que ?Gil estava estranho na semana anterior ao crime. Gil não tinha a menor afinidade com o pai, tendo um relacionamento conturbado. Gil dizia que o pai ?queria dominar o mundo".

O segundo depoimento do dia foi de Fabrício Silva dos Santos, que atuava como vigia na Rua Traipu. Ele disse não ter visto ninguém saindo da casa na noite do crime. Disse apenas ter ouvido o ruído de tiros, mas que não sabia do que se tratava. Dirigiu-se então ao outro vigia da rua, uma testemunha protegida cujo nome não foi divulgado pelo Tribunal de Justiça e que é uma das principais armas da acusação por afirmar ter visto Gil deixando a casa do pai. Segundo Fabrício, este vigia estava em sua guarita e afirmou que o ruído deveria ser o de janelas batendo.

O terceiro depoimento desta quinta foi de Francisco Luiz Valério Alves, motorista do vizinho de Luís Rugai.

Depoimento aguardado

Depois dos depoimentos das testemunhas do juízo, Gil Rugai deverá ser interrogado. A defesa garante que o réu tem interesse em responder a todas as perguntas. "Responderá (a todas as perguntas), tenha a mais absoluta certeza, a não ser que haja algo como uma falta de respeito. Gil Rugai é a única pessoa no processo que sempre deu a mesma versão. Ele tem interesse em falar por uma razão muito simples: é agora que ele vai ser julgado. Simples assim", declarou na noite de quarta-feira (20) Thiago Gomes Anastácio, advogado de defesa de Gil.

A acusação, por sua vez, acredita que o réu optará por se omitir em algumas questões. ?Nós temos várias perguntas, várias dúvidas, que nós vamos tentar sanar. Temos certeza absoluta que, pela inteligência do Gil Rugai, ele vai negar. Inclusive, ele não é obrigado a responder as minhas perguntas. Se ele quiser, se mantém calado. Mas vamos tentar de certa maneira esclarecer certos fatos e ter sucesso em relação a isso", afirmou o advogado Ubirajara Mangini K. Pereira, assistente de acusação.

Arma do crime

Na chegada ao Fórum nesta manhã, o promotor Rogério Leão Zagallo afirmou que na sexta-feira (22), quando devem ocorrer os debates entre defesa e acusação, deverá mostrar aos jurados a arma do crime. Segundo ele, o exame de balística confirma que os tiros que mataram Alessandra e Luís Carlos saíram da pistola calibre 380 encontrada no prédio onde Gil mantinha uma sala comercial. ?Não há como não ter sido Gil Rugai o autor do crime. Foi ele. E é isso que vou provar amanhã?, disse.

Zagallo criticou ainda a postura do juiz Adilson Paukoski Simoni que, segundo o promotor, tem sido permissivo diante dos ?abusos? da defesa do réu. ?Se alguém viu o juiz aqui neste julgamento, que me apresente. Tenho respeito e amizade por ele, mas está me intrigando a forma como ele está deixando esse julgamento correr. Me causa espécie a forma contemplativa, omissiva e sobretudo permissiva aos abusos na produção da prova pela defesa?, disse. Esta é a segunda vez que Zagallo critica a condução dos trabalhos do júri.

Quatro dias de júri

O julgamento de Gil Rugai já dura quatro dias, com 15 depoimentos, entre testemunhas de acusação, defesa e arroladas pelo juízo. Nesta quinta-feira, quarto dia do júri, além do depoimento do ex-sócio de Gil, outras duas testemunhas convocadas pelo juízo são ouvidas e só depois deverão ocorrer o interrogatório do réu e o debate entre defesa e acusação.

Gil é acusado de matar o pai e a madrasta com 11 tiros, na residência em que morava na Rua Atibaia, em Perdizes, na Zona Oeste da cidade. No mesmo processo pelo homicídio, Gil responde ainda a acusação de ter dado um desfalque de mais de R$ 25 mil, em valores da época, à empresa do pai, razão pela qual havia sido expulso do imóvel cinco dias antes do crime. Ele cuidava da contabilidade da ?Referência Filmes?.

A previsão do juiz Adilson Paukoski Simoni é que o julgamento termine até sexta-feira (22). Caberá a sete jurados ? cinco homens e duas mulheres, escolhidos por sorteio - decidirem se Gil Rugai matou ou não o pai e a madrasta. O réu, que atualmente tem 29 anos de idade, responde ao processo em liberdade, mas já chegou a ficar preso por dois anos.

O júri de Rugai começou na segunda-feira (18), com uma sequência de depoimentos de testemunhas arroladas pela acusação. Foram ouvidos um vigia e dois peritos. O primeiro a depor foi o homem que trabalhava como vigilante na rua onde o crime ocorreu, uma testemunha protegida cujo nome não foi divulgado pelo Tribunal de Justiça. Ele confirmou ter visto o réu saindo da casa junto com outra pessoa na noite de 28 de março de 2004.

Na sequência, o perito Daniel Romero Munhoz, professor de medicina legal, afirmou que o réu tinha uma lesão no pé após o assassinato. A testemunha, porém, evitou apontar o que causou o machucado. O terceiro a depor foi o perito criminal Adriano Iassmu Yonamine, que disse que a perícia apontou ?a presença inequívoca de Gil Rugai? no local do crime.

Na terça-feira (19), segundo dia de júri, foram ouvidas outras duas testemunhas de acusação e a primeira testemunha de defesa. O instrutor de voo Alberto Bazaia Neto, convidado pela acusação, declarou que Luis Carlos Rugai, pai do réu, lhe falou dias antes de ser morto que o filho o havia "roubado" e era "perigoso".

Após o depoimento do instrutor de voo, os advogados de defesa de Gil Rugai chegaram a reclamar do fato de a polícia não ter apurado uma possível ligação do tráfico de drogas com o crime, mas o júri seguiu com o depoimento do delegado Rodolfo Chiarelli, que investigou o crime e foi arrolado também pela acusação. Ele voltou a acusar o estudante do assassinato.

O último a ser ouvido na terça-feira foi o perito criminal Alberi Espindola, convidado pelos advogados do réu, que contestou o Instituto de Criminalística, apontando supostas falhas no procedimento dos peritos no caso.

No terceiro dia do júri, na quarta-feira (20), seis testemunhas foram ouvidas, todas de defesa. Entre os principais depoimentos esteve o do irmão do réu, Leo Rugai, que afirmou acreditar na inocência do acusado. ?Foi uma coisa olho no olho. Conheço ele, acredito nele?, afirmou ao advogado Thiago Anastácio, um dos defensores do réu.

Também prestou depoimento o contador da "Referência Filmes", Edson Tadeu de Moura, que afirmou que a contabilidade da empresa estava ?em ordem? e disse desconhecer supostos desfalques.

Foram ouvidos ainda a antropóloga Ana Lúcia Pastore Scheitzmeyer, o jornalista Valmir Salaro, da TV Globo, o vigia Valeriano Rodrigues dos Santos e o perito do Instituto de Criminalística (IC) Ricardo Salada. Duas testemunhas que seriam ouvidas, José Eugênio Moura e a perita Cristina Gonzalez, foram dispensadas pela defesa.

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