A morte de Nathali Haydee, de 36 anos, tornou-se caso de policia em Águas Lindas de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. O esposo da vítima, Jhader de Melo, alega negligência por parte do médico que a atendeu na rede pública, acusando-o de ser responsável pela morte de sua esposa. Após constatar o óbito, o homem agrediu o médico Pablo Henrique de Araújo Leal ainda na unidade hospitalar.
Conforme informações da Polícia Militar, o suspeito alega que o médico foi negligente ao cuidar de sua esposa. A defesa do marido da paciente relatou que que ele agrediu o médico assim que soube da morte da esposa, relembrando um episódio em que o profissional a teria atendido e exigido que ela "calasse a boca".
O ataque a Pablo ocorreu na tarde de segunda-feira (11), no Setor Mansões Odisséia. O marido da paciente confessou aos policiais que, nervoso com a notícia do óbito, invadiu a sala do médico para agredi-lo. Um exame de corpo de delito confirmou um ferimento de três centímetros em uma das pálpebras do médico, causado pelos socos. Até o último contato desta reportagem, o G1 não conseguiu se comunicar com Pablo.
Diante da situação, o médico expressou à PM sua intenção de processar criminalmente o esposo da paciente. Ambos foram encaminhados à Delegacia de Águas Lindas de Goiás, onde foi registrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) contra Jhader pelo crime de lesão corporal. A delegada Lorenna Cardoso Peres informou que o documento foi encaminhado à Justiça.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) condenou a agressão a Pablo e anunciou uma investigação para apurar possíveis negligências no atendimento à esposa do suspeito.
Entenda todo o caso
Segundo relato do advogado de defesa de Jhader de Melo em entrevista ao G1, Nathali procurou a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) localizada no Setor Mansões Odisséia, no dia 6 de dezembro, devido a dores no corpo. Um médico, que não está envolvido no caso, realizou o atendimento da mulher e solicitou um exame de dengue, pois os sintomas apresentados assemelhavam-se aos da doença.
O advogado Fábio Cavalcanti explica: "O primeiro exame indicou que não era dengue. Apesar dos sintomas bastante semelhantes, o exame revelou a ausência da doença. No entanto, o médico afirmou: 'Olha, eu acho que você está com dengue. Isso aqui é um falso negativo, tá?'"
No dia seguinte, o médico realizou novamente os exames, os quais continuaram indicando resultados negativos. Ele orientou Nathali a retornar para casa, descansar, ingerir água e utilizar um medicamento. O advogado de defesa está em processo de investigação para identificar o medicamento prescrito.
Nathali permaneceu em casa por quatro dias, seguindo o tratamento com o medicamento, e retornou à UPA na manhã de segunda-feira (11). Nessa ocasião, de acordo com o advogado da família, ela apresentava um estado mais debilitado e dores mais intensas. Foi atendida, desta vez, por Pablo Henrique de Araújo Leal.
Durante a avaliação, Pablo percebeu que a paciente não estava tão debilitada e, por isso, a encaminhou apenas para receber duas bolsas de soro. O advogado relata que, enquanto ela recebia a primeira bolsa, o estado clínico de Nathali "piorou de 0 a 100".
“O marido foi lá no médico e falou: 'Doutor, a situação está pior, a minha esposa parece que está com o corpo ficando gelado, está ficando pálida. Ela disse que não quer morrer, ela disse que está sentido que está morrendo, faz alguma coisa'. Mas o médico falou: 'não, eu tenho que esperar o soro acabar'”, disse o advogado.
A morte de Nathali Haydee está atualmente sob investigação. A Polícia Civil divulgou que a responsabilidade pela apuração do caso foi atribuída à 1ª Delegacia de Polícia de Águas Lindas. Conforme afirmado pelo advogado da família, uma professora de enfermagem que testemunhou a situação de Nathali na UPA e alertou sobre a abordagem no tratamento já foi ouvida como testemunha no caso.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) anunciou que também iniciará uma investigação para esclarecer as circunstâncias do atendimento médico.
O que diz o Conselho de Medicina
O Cremego condenou veementemente a agressão contra Pablo, declarando que "nenhuma justificativa valida a violência ocorrida". O órgão também expressou pesar, observando que incidentes de violência como esse estão se tornando mais frequentes e instou à adoção de medidas para assegurar a segurança daqueles que desempenham o papel crucial de salvar vidas.
O que diz o médico
A defesa do médico ainda não se pronunciou sobre o caso.
Confira a nota do Conselho Regional de Medicina
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) repudia a violência contra o médico Pablo Henrique de Araújo Leal, agredido enquanto trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Mansões Odisseias, na cidade de Águas Lindas de Goiás. As circunstâncias do atendimento médico que culminaram com a agressão serão apuradas pelo Cremego, mas nada justifica a violência registrada.
Infelizmente, esse episódio inadmissível e repugnante contra médicos tem se tornado comum e medidas urgentes precisam ser implementadas para garantir a segurança de quem trabalha salvando vidas. A agressão sofrida pelo médico não representa apenas um atentado à integridade física e moral de um indivíduo, mas é uma afronta a toda a classe médica e ao sistema de saúde goiano.