O medo de morrer e de perder a mulher foram as alegações do motoboy Sandro Dota para assassinar a universitária Bianca Consoli, de 19 anos, em setembro de 2011. As justificativas fizeram parte do interrogatório de duas horas, que terminou por volta das 22h desta segunda-feira (16). O réu no caso voltou a negar que tenha estuprado a jovem, como acusa o Ministério Público.
Dota voltou a afirmar aquilo que havia confessado em uma carta divulgada no mês passado. Ele disse que no dia do crime foi até a casa de Bianca para tirar satisfações sobre uma suposta agressão dela contra o filho de Daiana Consoli, irmã da vítima e então mulher do motoboy. Houve então uma luta corporal entre os dois e Bianca morreu ?por acidente?.
? Depois que rolamos pela escada, a Bianca correu para a varanda e se ela saísse lá e gritasse, eu seria linchado. Eu iria morrer, ali na região tem bandidos de uma facção criminosa. Eu tinha pavor de cadeia, se eu voltasse pra uma eu não ia aguentar. Fiz tudo isso também pra não perder a Daiana, a mulher que eu amava.
Além da suposta agressão contra o enteado, Sandro Dota revelou estar cansado das constantes humilhações que sofria não só de Bianca, mas como de toda a família Consoli, que não aceitava o relacionamento dele com Daiana. Ele citou várias situações em que a cunhada o teria maltratado, o que foi gerando um inconformismo nele.
? Uma vez ofereci carona pra Bianca e ela me ignorou. Ela era assim (...). A Bianca bateu sim no [diz o nome do enteado, menor de idade]. A Daiana mesmo dizia que um dia ela bateria na dona Marta, já que ela era de enfrentar mesmo.
No julgamento realizado em 23 de julho, Dota alegou estar passando mal e destituiu o seu então advogado de defesa, Ricardo Martins, o que levou a uma anulação daquele júri popular, remarcado para esta segunda-feira. O motoboy relembrou o fato durante o seu interrogatório e explicou as razões que o fizeram mentir por mais de dois anos, nos quais sempre alegou ser inocente do crime.
? Menti muito por dois anos por medo de perder a Daiana e a minha família. Mas outros mentiram aqui também [sobre mim]. A psicóloga do presídio [de Tremembé, onde Dota está desde dezembro de 2011] me orientou a dizer a verdade. Ela disse que a prisão não está no corpo, mas sim na mente. No outro júri eu estava disposto a falar, mas aconteceu algo. O doutor Ricardo foi legal comigo, mas eu enganei ele. Acabei destituindo ele porque não acreditava mais nele também.
O réu corroborou as declarações feitas em uma entrevista ao Domingo Espetacular, no fim do mês passado (a qual foi exibida antes do início do interrogatório, a pedido da defesa), e reafirmou que não estuprou a vítima, admitindo apenas o assassinato. Ele disse que sequer se sentia atraído por Bianca e que sempre se relacionou com mulheres loiras, para reforçar a sua posição.
? Nunca me insinuei para a Bianca. Ela nem fazia o meu tipo. A Bianca é a única pessoa que poderia confirmar isso aqui, mas infelizmente isso não é possível.
O promotor Nelson dos Santos Pereira Júnior e o seu assistente, Cristiano Medina, questionaram vários pontos da versão de Sandro Dota para o crime. O fato de ele ter pulado o muro da casa de Bianca para tirar satisfações com ela foi o primeiro tema abordado. Outro foi uma ameaça de morte que o motoboy teria feito a sua ex-mulher, com a qual tem uma filha. Dota se recusou a responder a outros questionamentos de Medina.
? Sabia que se tocasse a campainha ela não iria me atender, por isso pulei o muro (...). Esse boletim de ocorrência da minha ex-mulher eu só tomei conhecimento há pouco tempo atrás, mas jamais diria isso. Ela é uma ótima mãe.
Já o advogado Aryldo de Oliveira de Paula e sua equipe procuraram mostrar aos jurados um Sandro Dota trabalhador, que aceitou confessar para pagar pelo que fez. Todavia, reforçou a tese de que não houve estupro e de que o assassinato foi motivado pelas agressões da vítima. Ele negou ainda qualquer abuso contra os enteados, algo que fora levantado horas antes no depoimento de Daiana.
? Não tenho medo da condenação. Quero pagar pelo que fiz, é isso que me alivia. Se quiserem que eu pague pelo estupro, vou pagar, mesmo não tendo acontecido nada. Estou aqui para ser condenado. Posso dizer que hoje eu venci a prisão da minha vida.
O julgamento deve terminar nesta terça-feira (17), quando acontecem os debates entre defesa e acusação a partir das 9h. Em seguida, os jurados irão se reunir e vão deliberar, antes da decisão ser proferida pela juíza Fernanda Afonso de Almeida, da 4ª Vara do Júri.