O traficante Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, relatou ter feito greve de fome e ter ficado em isolamento por seis meses após a chegada ao presídio federal de Campo Grande (MS).
Em uma audiência de 50 minutos gravada por videoconferência em agosto deste ano, o criminoso apontado pelas autoridades como o chefão do CV (Comando Vermelho), facção criminosa do Rio de Janeiro, ainda disse sofrer com problemas psicológicos, admitiu enfrentar um "momento difícil na vida" e comparou tráfico com milícia: "Não sou igual miliciano, que exigia dinheiro de empresário. Fiz um trabalho social".
Transferido da penitenciária de Mossoró (RN) para Campo Grande em setembro de 2019, Beira-Mar disse ter permanecido por seis meses em uma cela isolada na unidade sob o pretexto de análise do seu perfil devido à hierarquia entre os outros internos.
Durante esse período, relatou não ter tido condições de estudar por causa da escassez de iluminação no local e se referiu ao episódio como "uma forma de tortura". As declarações foram dadas em audiência com o juiz-corregedor federal Dalton Igor Kita Conrado.
Esse tipo de denúncia não é novidade. Após a morte do traficante Elias Maluco, encontrado morto com sinais de enforcamento na própria cela na penitenciária de Catanduvas (PR) em setembro de 2020, a OEA (Organização dos Estados Americanos) tornou pública a cobrança por providências do governo brasileiro em petição classificada como "tortura e pena cruel" devido à situação de detentos há mais de dez anos em presídios federais.
Quando cheguei aqui [ao presídio de Campo Grande], fui mantido isolado em uma espécie de VPI [Verificação Preliminar de Informação] administrativo. Alegaram me deixar isolado por um tempo desse para analisar o meu perfil. É impossível, porque estou há 14 anos [no sistema prisional federal]. Eles conhecem o meu perfil. Eu entendo isso como uma forma de tortura", disse Fernandinho Beira-Mar, em audiência.
Beira-Mar ainda relatou ter ficado por 19 dias sem se alimentar até agosto do ano passado em protesto pelos quatro meses sem assistência jurídica em meio à pandemia do coronavírus. Durante o período sem contato com os seus advogados, o traficante disse ter respondido a cerca de dez procedimentos disciplinares.