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Caso Voepass: pilotos estavam calmos e não relataram pane antes da queda que matou 62 pessoas

Além dos sinais de gelo detectados na própria aeronave, houve pelo menos três relatos ao controle de tráfego aéreo de São Paulo sobre formação de gelo.

Acidente em Vinhedo, SP | Foto: Claudia Vitorino/CJ Estratégia
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Quase um ano depois do acidente envolvendo um avião da Voepass que matou 62 pessoas em Vinhedo (SP), áudios inéditos revelam parte das últimas comunicações entre a tripulação e o controle de tráfego aéreo de São Paulo pouco antes da queda da aeronave. Os arquivos foram obtidos pelo g1.

Mesmo em contato constante com os controladores, os pilotos não mencionam nenhuma pane ou emergência. As comunicações são calmas e seguem o padrão esperado durante a aproximação para o pouso.

Neste sábado (2), um ex-funcionário que presenciou a última manutenção do avião relatou ao g1 que, horas antes de decolar, a aeronave da Voepass apresentou uma pane no sistema de degelo. A falha foi omitida do diário de bordo e ignorada pela liderança da manutenção.

OUÇA!

VEJA A TROCA DE COMUNICAÇÃO

13h14min36s 

Piloto: “São Paulo, Passaredo 2283, informação Sierra (aqui, ele dizia estar ciente sobre as informações meteorológicas do aeroporto de destino, que são divulgadas gradualmente ao longo do dia nomeadas por letras)

13h14min40s

Controle: “Passaredo 2283, confirme como recebe o controle”.

Minutos depois, a tripulação avisou estar no ponto ideal para iniciar a descida, mas recebeu instrução para manter a altitude. Pouco depois, veio o último áudio disponível.

13h18min21s

Piloto: “Ponto ideal de descida, o Passaredo 2283”.

Controle: “Passaredo 2283, mantenha nível 170”.

Piloto: “Mantendo nível 170, Passaredo 2283”.

13h18min53s

Nesse momento, o painel tinha acabado de indicar pela primeira vez, segundo a caixa-preta, o alerta de que a aeronave estava perdendo velocidade, mas não há menção a esse fato.

Avião da Voepass | FOTO: Divulgação/Voepass

Cerca de 30 segundos depois dessa comunicação, o painel indicou mais um mais alerta, agora de um segundo estágio, mais grave, de perda de velocidade da aeronave.

NOVAS INFORMAÇÕES

Os primeiros contatos ainda revelam que não houve qualquer indicação de emergência ou situação fora do normal, segundo o Cenipa. No entanto, o acúmulo de gelo já vinha comprometendo o desempenho da aeronave, como perda de velocidade.

Alertas luminosos e sonoros de detecção de gelo e de queda na velocidade surgiram no painel do ATR 72-500 da Voepass enquanto a tripulação se comunicava com o controle de tráfego aéreo, com passageiros e com uma comissária.

Além dos sinais de gelo detectados na própria aeronave, houve pelo menos três relatos ao controle de tráfego aéreo de São Paulo sobre formação de gelo na região em horários próximos ao acidente. 

INVESTIGAÇÃO

Segundo Carlos Eduardo Palhares, diretor do Instituto Nacional de Criminalística, os dois pilotos do voo tinham treinamento para voar em condições de gelo, e a questão central era entender se os procedimentos adotados estavam de acordo com esse preparo.

A Polícia Federal está em fase de coleta de depoimentos no inquérito que apura ação criminosa na tragédia e não comenta hipóteses até que haja a conclusão do inquérito. 

O problema maior dessa investigação está em entender não só a máquina, mas entender quais são as condutas, quais são as rotinas da aeronáutica que estão relacionadas à queda da aeronave, afirma o delegado-chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza.

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