Pablo Henrique Campos Santos, acusado de feminicídio contra Vanessa Carvalho e tentativa de feminicídio contra a ex-namorada Anuxa Alencar, prestou depoimento durante o julgamento do caso na 1ª Vara do Tribunal Popular do Júri de Teresina, nesta terça (30).
O empresário deu detalhes do dia 29 de setembro de 2019, momentos antes do atropelamento das vítimas na saída de um buffet na avenida Homero Castelo Branco, na zona Leste de Teresina, onde estavam em uma festa de casamento. Vanessa não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Já Anuxa foi encaminhada ao hospital em estado grave, e conseguiu sobreviver. Pablo Santos relatou que tinha um relacionamento harmonioso com Anuxa Alencar, mas ambos passavam dos limites quando bebiam. Mais cedo, em seu depoimento, Anuxa disse que foi ameaçada por Pablo.
“Quando chegamos na festa, chegamos como últimos convidados, quando entramos no buffet, as mesas estavam praticamente todas ocupadas, foi daí que conseguimos uma mesa do mezanino, lá no final do buffet. [...] Daí teve a solenidade com o juiz e logo depois começou os comes e bebes e lembro que ficamos na mesa conversando. Perguntando o que iriamos beber. Eu falei que ia beber cerveja, outros falaram que iria beber outras bebidas e daí o garçom chegou próximo a nossa mesa, ofereceu uma taça de cerveja, tomei o primeiro gole e a cerveja não estava gelada, voltei e logo em seguida vinha outro garçon com whisky a parti a beber whisky. Começamos a beber, nos divertimos, comendo e bebendo, bebemos muito, bebi muito. Eu sei que já depois de algumas horas de festas, um convidado chamou todo mundo da mesa para se reunir mais próximo da banda. [...] Sendo que nesse momento, já tinha bebido muito, bebendo setado em uma área climatizada e até comentei quando tomei a primeira dose com o Kevin que o garçom estava botando uma dose bem forte. Mas aí logo depois comecei a tomar, na segunda adiante já não falei mais nada. Daí já estava bem embrigadado e não me recordo a pessoa que convidou a pessoa a mesa para descer e ficar em uma única mesa. Se foi o noivo ou uma pessoa da família mais próxima. Continuei bebendo e perdi o sentido, só fui voltar em mim quando eu estava na central de flagrantes, sem saber estava preso e sem saber o que tinha acontecido”, relatou em seu depoimento.
O empresário disse que depois do atropelamento, foi informado que havia discutido com a até então namorada e acontecido a tragédia. Ele recordou também de ter uma vaga lembrança da Anuxa dançando com outras pessoas e próximo ao cantor. “O doutor Faustino me disse que nessa bebedeira acabei discutindo com a Anuxa e acabou acontecendo a grande tragédia da minha vida e na vida desses dois jovens. Tudo que eu posso me lembrar desta noite; uma vaga lembrança de que, um flash, em alguma momento eu tenha visto a Anuxa próximo do cantor e de outras pessoas. É só um flash, eu não tenho como absorver as pessoas que estavam nesse momento. Tudo o que me recordo dessa noite é isso”, completou.
Pablo disse que sempre acontecia de beber e dirigir e negou agressões dentro do seu relacionamento, apesar de discussões quando ambos bebiam. O réu também destacou que não sentiu ciúmes por Anuxa dançar com outras pessoas, pois já era costumeiro.
“Hoje eu posso admitir depois desse período recluso que eu era viciado no álcool, ela também bebia bastante. Durante nosso relacionamento que não houve agressões físicas. A gente se agredia verbalmente. Para evitar, eu me evadia do local. Sempre saia para evitar discussão na roda de amigos. A maioria das vezes, os nossos desentendimentos, gerava só quando a gente consumia a bebida alcoólica. Enquanto a gente não consumia bebida alcoílica em excesso, a gente era um belo casal, mas quando passa dos limites sempre havia discussões ou algo do tipo. A bebida ela já não me fazia bem. Não, porque ela dançava com outras pessoas, com amigos dela e eu nunca demostrei esse ciúme por ela dançar. Acredito que uma dança não vá denegrir ou desrespeitar. Eu não me recordo dessas palavras que falei. [...] Estava fora de mim, fora do meu limite. Não consigo me lembrar o que aconteceu depois que saímos do mezanino e fomos para aquela mesa. Não lembro quem me entregou a chave. Sei que era eu, sei que foi eu que colidi, sei que foi eu que conduzi esse veículo até a casa dos meus pais. As visitas que o doutor Eduardo me fazia tem um vídeo eu dirigindo o veículo que colidiu com as meninas”, declarou.
Questionado sobre a autoria do crime, Pablo Santos confessou que conduzia o Jeep Renegade na madrugada do dia 29 de setembro de 2019, quando atropelou as vítimas. “Sim, mesmo inconsciente, mas era eu que conduzia o veículo. Estou arrependido amargamente pelos acontecidos”, disse.
Mãe de Pablo também depõe e dá detalhes da chegada do filho em casa
Bastante abalada, a mãe do empresário, Jaqueline Furtado Campos Santos, deu detalhes do momento em que o filho chegou em casa. Segundo ela, Pablo Santos chegou em casa depois das 4 da manhã embriagado, acompanhado de outras pessoas. Ela disse que o colocou para dormir e a polícia chegou horas depois, o conduzindo para a Central de Flagrantes.
“Eu estava em casa e depois de 4 da manhã eu ouvi um barulho e eu abri a janela e vi que era o Pablo.Saí, abro a porta e ela estava acompanhado de um rapaz e uma moça. Ele disse ‘boa noite’ e perguntou o que eu era desse rapaz. Eu disse que era mãe. Ele disse: ‘Olhe, ele está altamente alcoolizado como a senhora está vendo e ele vinha em alta velocidade e por pouco não ia acontecendo uma tragédia ali comigo. Eu notei que ele estava altamente alcoolizado e me senti na obrigação de acompanhar ele’. Eu pedi para colocar ele dentro de casa para evitar uma tragédia, só que ninguém sabia que já tinha acontecido. Ele disse que era policial e a nossa preocupação era colocar ele para dentro A Polícia chegou era umas 5 horas da manhã. Ele estava muito alcoolizado, ele caminhava eu ajudando ele. Coloquei ele na cama. A Polícia foi buscar ele depois disso. Ele não estava entendendo nada, ele estava altamente embriagado”, descreveu a mãe.
Familiares de Vanessa Carvalho pedem pena máxima para Pablo Campos
Edson Carvalho, pai de Vanessa Carvalho, esteve na frente do Fórum com um grupo de amigos, familiares e defensores do direito das mulheres com cartazes que pedem a pena máxima para o acusado.
“O sentimento é de confiança na Justiça. A gente acredita que a Justiça já vai ser feita hoje e não só para minha filha, mas para todas as famílias que sofrem com o feminicídio, porque só quem está dentro é que sabe o que está passando. Eu acredito na justiça de Deus que eu já tenho e que a justiça dos homens hoje seja feita para que nenhum tipo de crime desse aconteça mais com nenhuma família. Acredito sim na pena máxima e se tivesse 300 anos para dar para ele ainda seria pouco, porque tenho certeza que a sociedade não quer um monstro desse solto colocando em risco a vida de outras mulheres”, declarou.
A mãe de Vanessa Carvalho, Vania Carvalho, também esteve no Fórum para acompanhar o julgamento, mas foi impedida de entrar no Tribunal. “Eu esperei quase três anos para esse julgamento e fui impedida de entrar. Eu como mãe é um absurdo não poder assistir esse julgamento. Não sei nem descrever meu sentimento, estou a base de remédios e estou aqui querendo justiça. Eu quero pena máxima porque ele cometeu um feminicídio e mais uma tentativa, ele tem que apodrecer na cadeia. Não foi acidente e lugar de bandido é na cadeia”, pontuou.