Antes de confessar o assassinato dos pais e do irmão de 3 anos, o adolescente apreendido em Itaperuna, no interior do Rio de Janeiro, chegou a registrar o desaparecimento dos familiares ao lado da avó paterna, na 143ª Delegacia de Polícia, na última terça-feira (24). Na ocasião, ele afirmou que os pais teriam desaparecido após socorrer o irmão caçula, que teria se engasgado com um caco de vidro.
No entanto, a versão não resistiu à verificação policial. Nenhum hospital da cidade possuía registros de atendimento à família. Diante disso, o delegado Carlos Augusto Guimarães determinou uma perícia na residência. Foi então que os corpos das vítimas foram encontrados dentro da cisterna localizada na parte externa da casa.
"A quantidade de sangue encontrada no local era incompatível com o acidente doméstico descrito por ele. Depois que localizamos os corpos, ele confessou os crimes. Disse que atirou na cabeça do pai e da mãe, e no pescoço do irmão. Perguntamos por que matou o menino, e ele respondeu que era para poupá-lo da dor de perder os pais", relatou o delegado.
Possíveis motivações
A polícia trabalha com duas linhas principais de investigação. Uma delas envolve um relacionamento virtual que o adolescente mantinha com uma menina de 15 anos, residente no Mato Grosso, desaprovado pelos pais. Segundo a investigação, a garota teria pressionado o adolescente a ir até seu estado, e, ao ser impedido pela família de realizar a viagem, ele teria decidido cometer os assassinatos.
"Durante a perícia, encontramos uma bolsa de viagem já pronta, com os celulares das vítimas dentro. Ele disse que conheceu a garota em jogos online. Já acionamos a polícia do Mato Grosso para localizar essa jovem", afirmou Guimarães.
A segunda linha de apuração envolve uma possível motivação financeira. Após o crime, o adolescente pesquisou na internet sobre “como receber FGTS de falecido”. O pai teria um saldo de R$ 33 mil disponível para saque.
"Questionado sobre a pesquisa, ele admitiu que a fez depois das mortes. Ainda não sabemos se foi essa a motivação principal. Seja por dinheiro ou por conta do namoro, ambos os motivos são considerados fúteis. Ele terá que responder por isso na Justiça", completou o delegado.
Detalhes da execução
O adolescente contou à polícia que dormia no quarto dos pais por ser o único com ar-condicionado. Para permanecer acordado, ingeriu um suplemento pré-treino e esperou todos dormirem. A arma do crime, pertencente ao pai, estava escondida sob o colchão do casal.
Após executar os familiares, ele usou produtos de limpeza para disfarçar os rastros e arrastou os corpos até a cisterna, localizada a poucos metros do quarto.
A arma foi posteriormente encontrada na casa da avó, que a recolheu após localizá-la na residência do neto, temendo que ele se ferisse. Os investigadores acreditam que ela não tinha conhecimento do crime.
"Ele foi extremamente frio ao relatar os detalhes. Não demonstrou remorso e afirmou que faria tudo novamente. Respondeu às perguntas com rapidez e se mostrava o tempo todo tentando se afirmar como adulto. Há indícios de traços psicopáticos. Ou ele planejou tudo minuciosamente, ou é um jovem com alto grau de inteligência", concluiu o delegado Guimarães.