Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) revelam indícios de um suposto esquema de compra de votos que teria financiado a campanha eleitoral da vereadora de Teresina Tatiana Medeiros (PSB), eleita em 2024. O conteúdo integra o inquérito da Operação Escudo Eleitoral e inclui trocas de mensagens de texto, áudios e comprovantes de transferências via Pix. A parlamentar foi presa nesta quinta-feira (3).
As conversas, segundo a PF, foram recuperadas após a quebra de sigilo telefônico de investigados. Entre os elementos analisados, estão diálogos que apontam para o uso de recursos provenientes de uma organização criminosa com o objetivo de influenciar o resultado eleitoral.
Declaração de altos gastos
O conteúdo integra o inquérito da Operação Escudo Eleitoral | Foto: Reprodução
De acordo com a investigação, em 24 de outubro de 2024, Alandilson Cardoso Passos, namorado da vereadora e preso desde novembro do mesmo ano por suspeita de tráfico de drogas, afirmou em mensagem a um amigo ter investido mais de R$ 1 milhão na campanha eleitoral de Tatiana Medeiros.
A Polícia Federal sustenta que há elementos que relacionam Alandilson ao tráfico de drogas e a organizações criminosas, o que reforçaria a suspeita de que os valores utilizados na campanha têm origem ilícita.
Três dias após essa mensagem, em 27 de outubro — data do segundo turno das eleições —, Alandilson e Tatiana Medeiros trocaram mensagens nas quais ele cobra o valor investido, e ela afirma que pretende quitar a dívida, inclusive mencionando a venda de um carro.
Mensagens inquérito da PF sobre esquema de votos ligado ao crime organizado | Foto: Reprodução
Trechos da conversa entre os dois estão incluídos no inquérito e evidenciam um embate entre o casal sobre o suposto financiamento da campanha:
Eleitores cobravam pagamentos após votação
O inquérito também reúne mensagens entre Alandilson e eleitores, nas quais há solicitações de envio de imagens do título de eleitor, do comprovante de votação e até gravações da urna eletrônica no momento do voto.
inquérito da PF sobre esquema de votos ligado ao crime organizado | Foto: Reprodução
Segundo os investigadores, esse controle seria utilizado para confirmar o voto na candidata. Após a confirmação, Alandilson realizaria pagamentos individuais de R$ 100.
"Há ocasiões em que Alandilson exige que os cooptados enviem fotos do título eleitoral, do comprovante de votação e, se possível, que filmem a urna eleitoral durante o voto. Em alguns casos, pergunta aos eleitores qual roupa a candidata Tatiana Medeiros usa na foto da urna eletrônica, a fim de ter o controle de quem realmente votou em cada sessão eleitoral. Uma vez confirmado o voto, Alandilson realizava pagamentos no valor de R$ 100", diz trecho do inquérito.
Padrasto da vereadora é apontado como operador financeiro
Outro alvo da investigação é Stênio Ferreira, padrasto de Tatiana Medeiros, identificado pela PF como responsável por executar operações financeiras a serviço da parlamentar. Ele foi afastado de funções públicas que ocupava na Secretaria Estadual de Saúde e na Assembleia Legislativa do Piauí.
De acordo com os autos, Ferreira realizava saques em valores elevados, entre R$ 20 mil e R$ 50 mil, a pedido da vereadora.
"Em chat WhatsApp, é possível perceber que seu padrasto realiza operações financeiras a pedido da parlamentar. O investigado repassa à vereadora comprovantes de saques programados, com valores elevados, de R$ 20 a 50 mil", descreve outro trecho do inquérito.
A Operação Escudo Eleitoral segue em andamento e as investigações continuam sob sigilo.