O perito-geral da Polícia Científica do Piauí, Dr. Antônio Nunes, pediu cautela nas investigações sobre os casos suspeitos de intoxicação por metanol registrados no estado. Até o momento, as autoridades sanitárias confirmaram a notificação de três casos, sendo dois em Parnaíba e um em Teresina.
Em entrevista ao programa “Crime e Castigo”, da Rádio Jornal FM 90.3, apresentado por Ana Ilza Medeiros e Kilson Dione, o perito afirmou que é preciso evitar julgamentos precipitados contra bares e distribuidores até que as análises laboratoriais confirmem a origem da substância.
“É preciso ter cuidado para a gente não sair fechando bares. Devemos ter alguma fonte fidedigna de suspeita de contaminação para que a equipe compareça ao local, como Vigilância Sanitária, Ministério Público, Polícia, e verifique tanto nas amostras das bebidas quanto no sangue e na urina do paciente se há presença de metanol. Só assim poderemos identificar de onde veio e evitar que se faça uma ‘caça às bruxas’”, afirmou o perito.
Casos em investigação no Piauí
O alerta ocorre no momento em que o Piauí registra três casos suspeitos de intoxicação por metanol. O caso mais recente aconteceu em Teresina, envolvendo um homem de 51 anos, que deu entrada em um hospital da rede privada no dia 2 de outubro após apresentar mal-estar, dor abdominal e visão turva.
De acordo com a Fundação Municipal de Saúde (FMS), o paciente relatou ter consumido um destilado recém-adquirido um dia antes do início dos sintomas. Ele passou por sessões de hemodiálise e apresentou boa resposta ao tratamento, segundo a equipe médica. O caso segue em investigação, com exames confirmatórios sendo realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Piauí (Lacen-PI).
Outros dois casos suspeitos foram registrados em Parnaíba, no litoral, onde os pacientes foram atendidos no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (HEDA) e já receberam alta médica.
“Não podemos investigar de forma indiscriminada”, diz perito
Durante a entrevista, Antônio Nunes explicou que a investigação deve seguir o caminho da rastreabilidade, a partir dos casos confirmados, para evitar generalizações que possam prejudicar estabelecimentos inocentes.
“As investigações devem rastrear conforme os casos. Por exemplo, se eu confirmo um caso, vou rastrear esse caso e descobrir de onde ele veio. Eu não posso sair indiscriminadamente achando que todo lugar está errado, até porque isso tiraria o foco da equipe. É melhor focar no suspeito do que no não suspeito”, destacou.
O perito também levantou hipóteses sobre possíveis causas da contaminação, que vão desde falhas acidentais na fabricação até situações de dolo ou negligência. “Na produção do etanol, é gerada uma pequena quantidade de metanol, mas em níveis não tóxicos. Em algumas situações, essa concentração pode aumentar e se tornar perigosa, pode ser uma falha de fabricação, um ato doloso, com intenção de causar dano, ou até negligência, como o uso de metanol para lavar garrafas, o que pode deixar resíduos”, explicou.
Entenda o risco do metanol
O metanol é um tipo de álcool industrial, usado em solventes, combustíveis e outros produtos químicos. A legislação brasileira limita sua presença a 0,5% em combustíveis e 20 miligramas a cada 100 ml em bebidas destiladas.
Quando ingerido, o metanol é altamente tóxico. Ele é metabolizado pelo fígado, que o transforma em substâncias que podem atacar a medula, o cérebro e o nervo óptico, provocando cegueira, coma ou até morte. Também pode causar insuficiência pulmonar e renal.
“A quantidade suportada é calculada por mililitro ou litro. Quanto maior a concentração, maior o risco. Se a pessoa consome uma bebida com teor elevado, a chance de intoxicação aumenta. Nem todas as bebidas têm o mesmo nível alcoólico, algumas podem concentrar mais que outras”, explicou Nunes.
ABRASEL SE PRONUNCIA
Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, seccional Piauí, reforçou que até o momento não há nenhum caso comprovado de contaminação por metanol ligado ao consumo em bares e restaurantes do estado. "É importante destacar que, mesmo diante das notícias, o movimento nos bares e restaurantes do estado segue normal, demonstrando a confiança dos consumidores nos estabelecimentos regulares e o compromisso do setor com a segurança e a qualidade dos produtos servidos", diz o comunicado.
A Abrasel no Piauí acompanha com atenção as notícias sobre casos de intoxicação por metanol registrados no país.
Até o momento, não há qualquer caso comprovado de contaminação por metanol ligado ao consumo em restaurantes. É importante destacar que, mesmo diante das notícias, o movimento nos bares e restaurantes do estado segue normal, demonstrando a confiança dos consumidores nos estabelecimentos regulares e o compromisso do setor com a segurança e a qualidade dos produtos servidos.
Também não foi encontrada nenhuma garrafa de bebida contaminada com metanol em estabelecimentos do setor, mesmo sob o intenso escrutínio das autoridades, da polícia, dos consumidores e da imprensa.
Ainda assim, a falsificação e adulteração de bebidas é um problema grave de saúde pública, que ameaça não apenas os consumidores, mas também os empreendedores sérios que atuam dentro da legalidade. É fundamental que toda a cadeia produtiva — fabricantes, distribuidores e estabelecimentos — esteja atenta e comprometida com a origem e a procedência das bebidas comercializadas.
Para apoiar os empresários do setor, a Abrasel reuniu informações, dicas e orientações técnicas sobre como identificar produtos irregulares, prevenir riscos e agir diante de suspeitas, em defesa da saúde dos clientes e da reputação dos estabelecimentos.
Vitor Bezerra
Presidente do Conselho de Administração da Abrasel no Piauí