Relações diplomáticas Brasil e Estados Unidos: 200 anos, novos horizontes

Ao longo dos dois últimos séculos, as duas jovens nações se tornaram as maiores democracias e economias das Américas.

Avalie a matéria:
Bandeiras de Brasil e EUA | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Neste mês, celebramos 200 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos. Em 26 de maio de 1824, o então presidente norte-americano James Monroe reconhecia de forma pioneira a independência brasileira, dando início a uma parceria próspera e duradoura.

Ao longo dos dois últimos séculos, as duas jovens nações se tornaram as maiores democracias e economias das Américas. Ao mesmo tempo, a relação entre elas se fortaleceu, oferecendo um terreno generoso para avanços mútuos em áreas como cultura, educação, ciência e meio ambiente. Uma verdadeira relação ganha-ganha.

Mas foram os interesses econômicos e comerciais que, desde o início e com maior intensidade, impulsionaram a aproximação bilateral. Como resultado, os Estados Unidos se tornaram o principal parceiro econômico do Brasil, considerado o conjunto das trocas em investimentos, bens e serviços.

A atração pelo mercado brasileiro levou muitas empresas norte-americanas a se instalarem no país, contribuindo para o desenvolvimento econômico. Fundada em 1919 por empresas como o Citi, a Amcham Brasil exemplifica esse movimento, tornando-se a maior Câmara Americana de Comércio fora dos EUA e a maior entidade multissetorial do Brasil.

Esse intenso fluxo empresarial fez dos Estados Unidos o país com o maior estoque de investimentos estrangeiros no Brasil, totalizando US$ 167 bilhões, segundo o Banco Central. Para cada quatro dólares investidos no Brasil a partir do exterior, aproximadamente um dólar vem dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos também são o principal destino para investimentos brasileiros. Seja pelo tamanho da economia ou facilidade de realizar negócios, as empresas brasileiras buscam o mercado norte-americano como vetor para internacionalizar os seus negócios, produzindo casos de sucesso nos setores de alimentos, moda, finanças, siderúrgico, tecnologia da informação etc.

No comércio de bens, a qualidade das trocas com os Estados Unidos não encontra paralelo no comércio exterior brasileiro, tanto sob a ótica da diversificação como da agregação de valor. Os Estados Unidos são o destino principal para as vendas externas de produtos industriais do Brasil e respondem por cerca de metade de suas exportações mundiais de bens de alta tecnologia.

Em serviços, o mercado norte-americano é o maior destino de vendas e origem de compras do Brasil, representando cerca de 40% de sua corrente de comércio. Predominam, nessas transações, setores sofisticados, como serviços financeiros, tecnologia da informação, manutenção de aeronaves e pesquisa e desenvolvimento.

Por detrás do comércio, não custa lembrar, estão as pessoas. Conforme o governo norte-americano, as exportações dos Estados Unidos para o Brasil sustentam quase 130 mil empregos naquele país, ao passo que as vendas brasileiras para os Estados Unidos mobilizam mais de meio milhão de empregos no Brasil.

Vale destacar, ainda, o rico histórico de cooperação bilateral. Como exemplo, a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e do setor siderúrgico brasileiro bem como as origens do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Eletrobras e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) são fruto da colaboração entre os governos e entidades de ambos os países.

O marco dos 200 anos nos oferece muitos motivos para celebrar. Mas, sobretudo, nos convida a olhar para frente, com ambição e pragmatismo. O mundo passa por um momento crítico, com desafios sem precedentes, favorecendo uma maior aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos.

Brasil e Estados Unidos são fundamentais na transição para uma economia de baixo carbono e no combate às mudanças climáticas. O diálogo bilateral em energia limpa e a criação da Aliança Global para Biocombustíveis destacam-se. Uma parceria sobre energia limpa, incluindo SAF, hidrogênio limpo e outras fontes renováveis, fortaleceria a relação e atrairia investidores.

Os países podem intensificar a cooperação em financiamento sustentável, apoiando o Plano de Transformação Ecológica do Brasil. A abertura do escritório do DFC em São Paulo e a presidência brasileira do G20, juntamente com a COP30 em Belém do Pará, oferecem oportunidades para novos compromissos ambientais.

Os planos de neoindustrialização do Brasil incluem uma maior integração comercial e investimentos com os Estados Unidos. No ano passado, as exportações brasileiras de bens industriais para os EUA atingiram um recorde de US$ 29,9 bilhões, superando a União Europeia e o Mercosul, destacando o importante papel dos Estados Unidos nesse processo.

Brasil e Estados Unidos são parceiros confiáveis na busca por resiliência na produção e segurança alimentar e energética. Um entendimento bilateral para diversificar cadeias de fornecimento em setores como minerais críticos, baterias, semicondutores, saúde e fertilizantes beneficiaria ambos os países. Esforços para reduzir bitributação e outras barreiras comerciais e de investimento são importantes.

A parceria e a amizade entre o Brasil e os Estados Unidos ao longo dos últimos 200 anos produziram conquistas econômicas e sociais valiosas para ambos os países. Inspirados por esse legado, é hora de mirar o futuro com ousadia e senso de oportunidade de forma a abrir novos horizontes. Um desafio à altura das duas nações.

Marcelo Marangon é presidente do Citi Brasil e do Conselho da Amcham Brasil.

Abrão Neto é CEO da Amcham Brasil.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Veja Também
Tópicos
SEÇÕES