Durante o sermão de Natal celebrado nesta quinta-feira (25), o papa Leão XIV fez duras críticas à situação vivida pelos palestinos na Faixa de Gaza. O pronunciamento chamou atenção pelo tom direto, incomum em uma celebração tradicionalmente marcada pela espiritualidade e pela solenidade do nascimento de Jesus.
Primeiro papa norte-americano da história, Leão XIV recorreu à narrativa do nascimento de Cristo para destacar a proximidade de Deus com os que sofrem. Segundo ele, o fato de Jesus ter nascido em um estábulo simboliza a escolha divina de habitar entre os mais frágeis e vulneráveis.
Ao relacionar essa imagem à atualidade, o pontífice questionou como é possível ignorar as tendas improvisadas em Gaza, expostas há semanas à chuva, ao vento e ao frio, onde milhares de pessoas tentam sobreviver em meio à crise humanitária.
Um pontificado marcado por cautela e atenção social
Celebrando seu primeiro Natal após ser eleito em maio para suceder o papa Francisco, Leão XIV tem adotado um estilo mais sereno e diplomático. Em geral, evita referências políticas explícitas em seus sermões, o que tornou o tom adotado nesta data ainda mais significativo.
Em uma bênção concedida após a missa, o papa também demonstrou preocupação com a situação de migrantes e refugiados, especialmente aqueles que cruzam o continente norte-americano em busca de proteção e dignidade.
Embora já tenha criticado no passado políticas migratórias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Leão XIV evitou citar nomes. Ainda assim, reforçou que negar ajuda aos pobres e estrangeiros equivale a rejeitar o próprio Deus, mensagem que já havia destacado na véspera de Natal.
Guerra, sofrimento humano e “feridas abertas”
Nos últimos meses, o pontífice tem se manifestado repetidamente sobre a situação em Gaza. Em declarações anteriores, afirmou que uma solução duradoura para o conflito passa necessariamente pela criação de um Estado palestino.
Apesar do cessar-fogo acordado entre Israel e o Hamas em outubro, após dois anos de bombardeios e operações militares iniciados depois do ataque de outubro de 2023, organizações humanitárias alertam que a ajuda continua insuficiente. Quase toda a população de Gaza permanece desalojada.
Na missa celebrada na Basílica de São Pedro, diante de milhares de fiéis, Leão XIV também lamentou a realidade dos sem-teto ao redor do mundo e os impactos devastadores deixados pelos conflitos armados.
Apelo global por paz e reconciliação
O papa descreveu como “frágil” a condição das populações indefesas marcadas por guerras em curso ou já encerradas, que deixam como herança destruição e sofrimento prolongado. Ele também destacou o impacto psicológico da violência sobre jovens forçados a combater.
Segundo Leão XIV, muitos desses jovens são empurrados para as linhas de frente e acabam pagando com a própria vida por decisões tomadas à distância, embaladas por discursos vazios e grandiosos.
Durante a mensagem e bênção “Urbi et Orbi”, tradicionalmente pronunciada no Natal e na Páscoa, o pontífice fez um apelo para o fim de todos os conflitos no mundo. Ele citou situações de violência na Ucrânia, Sudão, Mali, Mianmar, Tailândia, Camboja, entre outros países.
Falando da sacada central da Basílica de São Pedro, Leão XIV pediu que cesse o uso das armas na Ucrânia e que as partes envolvidas tenham coragem de buscar um diálogo sincero, com apoio da comunidade internacional. Sobre a Tailândia e o Camboja, pediu a restauração da antiga amizade entre as nações, como caminho para a reconciliação e a paz.