Manaus vive a pior seca da história com nível do Rio Negro em 13,59 metros

Em 24 de outubro de 2010, o nível do rio chegou a uma marca mínima de 13,63 metros

Seca no Amazonas | Matheus Castro/g1
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Manaus, no Amazonas, vive a maior seca da história! Dados do porto da capital, que monitora os níveis de subida e descido do Rio Negro, que banha a cidade, revelam que atualmente a marca do nível de água está em torno de 13.59 metros nesta segunda-feira (16).  

Em 24 de outubro de 2010, o nível do rio chegou a uma marca  mínima de 13,63 metros. Naquele período, essa seca foi identificada como a mais grave desde o início das medições hidrológicas no Rio Negro, em 1902. Agora, treze anos depois, essa marca foi superada oito dias antes do esperado, e os níveis da água continuam diminuindo a uma média de 13 centímetros por dia, conforme relatado pelo Porto de Manaus.

Captura de tela do vídeo de Thiago Oliver ( Foto: Reprodução)

O Serviço Geológico do Brasil (CRPM) divulgou, no final de setembro,  um relatório indicando que o auge da estiagem só deveria acontecer na segunda metade de outubro, o que terá um impacto ainda maior no cenário de calamidade da cidade.

Manaus, juntamente com a maioria dos municípios do Amazonas, enfrenta uma crise ambiental severa. Além da seca, que atingiu níveis recordes e isolou comunidades, a cidade teve que fechar escolas em áreas rurais e enfrenta dificuldades na navegação de embarcações e no escoamento da produção do Polo Industrial.

Mar de lixo no Centro de Manaus (Foto: Matheus Castro/g1)

Quase toda a orla da capital apresenta um cenário semelhante. O rio praticamente desapareceu, dando lugar a bancos de areia e pequenos riachos. Até mesmo o principal ponto de lazer da cidade, a Praia da Ponta Negra, teve que ser fechado. Uma cerca foi instalada para impedir o acesso dos banhistas.

Mesmo no Encontro das Águas, um dos pontos turísticos mais emblemáticos da cidade, a seca deixou sua marca de destruição e alterou completamente a paisagem. Em várias partes da extensa área de Manaus, o que antes era o majestoso Rio Negro agora é substituído por um "mar de lixo", com canoas e barcos encalhados.

Barcos encalhados em Manauis (Foto: Matheus Castro/g1)

Para aqueles cuja subsistência depende do rio, a situação é desesperadora. Erick Santos, um comerciante de 29 anos, alugou um flutuante no Lago do Puraquequara, na Zona Leste de Manaus, há cerca de um ano. Ele estabeleceu ali um pequeno restaurante, onde trabalha com sua família. No entanto, com a seca, viu o local esvaziar, e agora enfrenta dificuldades financeiras para pagar as despesas básicas de sua casa.

Desde o final de setembro, a Prefeitura de Manaus declarou estado de emergência na cidade. Naquela época, o Rio Negro estava pouco acima de 16 metros, três metros a mais do que o nível atual. Desde então, a administração municipal afirmou estar implementando várias iniciativas para evitar o isolamento e a falta de abastecimento nas áreas rurais e ribeirinhas da cidade. Entre as ações anunciadas, estão a perfuração de 30 poços artesianos e a distribuição de cestas básicas.

Uma outra ação adotada foi o encerramento das atividades na Praia da Ponta Negra no início deste mês. De acordo com a prefeitura, o fechamento está em conformidade com as regulamentações para o uso da praia de forma contínua, conforme estabelecido em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o município, o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) e diversos órgãos municipais e estaduais, incluindo o Corpo de Bombeiros do Amazonas (CBAM) e a Polícia Militar.

A grave seca que assola o Amazonas está ligada, de acordo com especialistas, à combinação de dois fatores que impedem a formação de nuvens e chuvas: o El Niño, que envolve o aquecimento do oceano Pacífico, e a distribuição de calor do oceano Atlântico Norte. O evento do Atlântico Tropical Norte está coincidindo com o El Niño, e a simultaneidade desses dois eventos é motivo de preocupação. Como explicou Renato Senna, meteorologista encarregado do monitoramento da bacia amazônica no Inpa: "Tivemos essa situação entre 2009 e 2010, que foi a pior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos".

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