As eleições parlamentares argentinas muito provavelmente representarão o inicio do fim do ciclo político marcado pela eleição de Néstor Kirchner, em maio de 2003.
A coalizão governista (FpV) não deve obter mais que 30% dos votos neste domingo.
O governo deve sair das urnas declarando que obteve mais votos que qualquer partido de oposição, mas ainda assim será um revés.
Primeiro, deve enterrar de vez as ambições da presidente Cristina Kirchner de conseguir aprovar uma emenda constitucional que permita sua "re-reeleição" em 2015.
Para aprovar essa emenda, a presidente precisaria de dois terços dos votos no Congresso-algo quase impossível de atingir, a julgar pelos resultados esperados.
Segundo, a provável vitória do candidato de oposição Sergio Massa na província de Buenos Aires, que detém 37% do voto nacional e funciona como uma prévia para as eleições nacionais, será interpretada como um claro sinal de mudança para 2015.
Sem ter condições de estruturar seu sucessor em 2015, o que fará a presidente nesses próximos dois anos?
Mesmo que ela não obtenha uma ampla maioria no Congresso, a presidente continuará governando com ampla liberdade, dada a grande centralização de poderes nas mãos do Executivo.
Mas todo o esforço do governo dela deve ser para jogar para o próximo presidente os custos de qualquer ajuste na economia.
A economia sofre com crescente deficit na conta de energia, devido à política de reprimir preços para os consumidores, e alta de inflação. A resultante fuga de capitais levou o governo a colocar restrições à saída de moeda e adotar medidas cada vez mais intervencionistas.
O enfraquecimento da presidente, entretanto, não levará a mais pragmatismo.
Em vez de atacar esses desequilíbrios, a estratégia deve ser maximizar o apoio político no curto prazo, empurrar com a barriga e apostar que o próximo governo naufragará com um ajuste doloroso. Aí, sim, a presidente pode estar criando as condições para sua volta em 2019.