Além da Guerra na Ucrânia: 7 conflitos sangrentos que ocorrem hoje no mundo

A Ucrânia vem recebendo apoio militar, ajuda humanitária e manifestações de aliança de diversas partes do mundo.

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A guerra na Ucrânia vem causando uma mobilização internacional como poucas vezes se viu nas últimas décadas. Mesmo sem nenhum país ter enviado tropas, a Ucrânia vem recebendo apoio militar, ajuda humanitária e manifestações de aliança de diversas partes do mundo.

7 conflitos sangrentos que ocorrem hoje no mundo- Foto: Reprodução

Em questão de dias, os Estados Unidos e a Europa impuseram à Rússia um dos maiores pacotes de sanções internacionais já vistas contra outro país.

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Nesta semana, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenzky se tornou o primeiro líder mundial a discursar no Parlamento britânico - por videoconferência -, onde foi ovacionado, como tem ocorrido em quase todas as participações de autoridades da Ucrânia em foros internacionais.

1. Etiópia

Uma guerra que já dura 16 meses na Etiópia deixou 900 mil pessoas em situação de fome, segundo estimativa do governo americano. Rebeldes que lutam no país dizem que mais de 9 milhões de etíopes necessitam de algum tipo de ajuda alimentar.

O conflito desencadeado em novembro de 2020 é um dos mais brutais no mundo atualmente, com relatos de assassinato de civis e estupros em massa, segundo a Anistia Internacional.

A base é uma disputa entre diferentes grupos étnicos que tentam conviver há quase 30 anos. Desde 1994, a Etiópia tem um sistema de governo federativo às vezes chamado de federalismo étnico, em que cada uma das dez regiões do país é controlada por diferentes grupos étnicos.

Uma delas é a região do Tigré, controlada por um partido político chamado de Frente de Libertação do Povo de Tigré - que é formado por pessoas desse grupo étnico. A Frente liderava uma coalizão de quatro partidos que governava a Etiópia desde 1991.

Sob esta coalizão, a Etiópia tornou-se mais próspera e estável, apesar de crescentes preocupações com direitos humanos e o nível de democracia. Esse descontentamento se transformou em protesto, levando a uma remodelação do governo em que o político Abiy Ahmed se tornou primeiro-ministro.

Abiy liberalizou a política, criou um novo partido (o Partido da Prosperidade) e removeu os principais líderes do governo acusados de corrupção e repressão.

Abiy encerrou uma longa disputa territorial com a vizinha Eritreia e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2019 - sendo aclamado internamente.

No entanto, os políticos de Tigré viam as reformas de Abiy como uma tentativa de centralizar o poder e destruir o sistema federativo da Etiópia.

Em 2020, o Tigré realizou eleições locais que foram consideradas ilegais por Abiy. Em novembro daquele ano, o conflito eclodiu.

Soldados da Eritreia aliados do governo etíope também estão lutando em Tigré. Ambos os lados do conflito foram acusados de atrocidades. Por ora, não há sinais de que o conflito possa chegar a um fim, já que não há sequer negociações em andamento.

2. Iêmen

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A ONU diz que a guerra no Iêmen resultou em níveis chocantes de sofrimento e causou o pior desastre humanitário do mundo.

O conflito já produziu 233 mil mortes, incluindo 131 mil por causas indiretas, como falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mais de 10 mil crianças morreram como consequência direta dos combates.

Quatro milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de suas casas e mais de 20,7 milhões (71% da população do país) precisam de alguma forma de assistência humanitária ou proteção para sua sobrevivência.

Segundo a ONU, 5 milhões de iemenitas estão à beira da fome e quase 50 mil já estão passando por condições semelhantes à fome. Estima-se que 2,3 milhões de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda, incluindo 400 mil que correm o risco de morrer sem tratamento, segundo a ONU.

Com apenas metade das 3,5 mil instalações médicas do país em pleno funcionamento e 20% dos distritos sem médicos, quase 20 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados de saúde adequados. Uma em cada duas pessoas também não tem acesso a água potável.

O conflito tem suas raízes no fracasso de um processo político que deveria trazer estabilidade ao Iêmen após a Revolução Iemenita de 2011 - que foi parte da Primavera Árabe - que forçou o presidente autoritário de longa data, Ali Abdullah Saleh, a entregar o poder a seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi.

Como presidente, Hadi lutou contra diversos problemas, incluindo ataques de jihadistas, um movimento separatista no sul, a lealdade contínua do pessoal de segurança a Saleh, além de corrupção, desemprego e insegurança alimentar.

O movimento Houthi - conhecido formalmente como Ansar Allah (Partidários de Deus) - aproveitou-se da fraqueza do novo presidente.

Os houthis, que defendem a minoria muçulmana xiita Zaidi do Iêmen e combateram uma série de rebeliões contra Saleh durante a década anterior, tomaram o controle de sua região central do norte da província de Saada no início de 2014 e começaram a avançar para o sul. Desiludidos com o governo, muitos iemenitas comuns - incluindo sunitas - os apoiaram e no final de 2014 os rebeldes começaram a tomar a capital, Sanaa.

O que acontece no Iêmen pode exacerbar muito as tensões regionais. Também preocupa o Ocidente por causa da ameaça de ataques - como da Al-Qaeda ou de afiliadas do Estado Islâmico - que emanam do país à medida que se torna mais instável

Os houthis e as forças de segurança leais a Saleh - que supostamente apoiaram seus antigos inimigos em uma tentativa de recuperar o poder - tentaram assumir o controle de todo o país, forçando Hadi a fugir para o exterior em março de 2015.

Outros países da região - as potências regionais rivais Irã e Arábia Saudita - se envolveram no conflito.

Alarmados com a ascensão de um grupo que eles acreditavam ser apoiado militarmente pelo poder regional xiita e rival Irã, Arábia Saudita e outros oito Estados árabes majoritariamente sunitas começaram uma campanha aérea com o objetivo de derrotar os houthis, acabar com a influência iraniana no Iêmen e restaurar o governo de Hadi.

A coalizão recebeu apoio logístico e de inteligência dos EUA, Reino Unido e França.

Analistas esperavam que a guerra durasse poucas semanas, mas ela já se arrasta há oito anos, e nos últimos anos houve um escalonamento da violência.

3. Mianmar

Mianmar é outra região que enfrenta tensões políticas e étnicas há anos - e muitos analistas dizem que o país vive uma guerra civil. A violência lá aumentou nos últimos meses.

Os militares do Tatmadaw (Exército) deram um golpe em Mianmar e assumiram o controle do país em 1º de fevereiro de 2021, após uma eleição geral vencida por ampla margem pelo partido da líder Aung San Suu Kyi (NLD).

Ativistas da oposição formaram uma campanha incitando a desobediência civil, com greves e protestos em massa contra o golpe. Os militares usaram violência para dispersar os movimentos. E a desobediência civil aumentou, atingindo o ponto de uma guerra civil de verdade.

Milícias locais que se autodenominam Forças de Defesa do Povo atacaram comboios militares e assassinaram autoridades.

O comandante-chefe militar Min Aung Hlaing assumiu o poder. Ele recebeu condenação e sanções internacionais por seu suposto papel nos ataques dos militares às minorias étnicas. Os militares prometem que realizarão uma eleição "livre e justa" assim que o estado de emergência em Mianmar terminar.

A ONG humanitária International Rescue Committee estima que os conflitos que se espalharam por todo o país desde que os militares tomaram o poder já deslocaram 220 mil pessoas em 2021.

Segundo a entidade, mais de 14 milhões de pessoas (mais de 25% da população do país) precisam de algum tipo de ajuda humanitária. Acredita-se que mais de 10 mil pessoas morreram desde fevereiro do ano passado.

4. Haiti

7 conflitos sangrentos que ocorrem hoje no mundo- Foto: Reprodução

O Haiti vive uma nova espiral de violência desde julho de 2021, quando o então presidente do país Jovenel Moïse foi brutalmente assassinado.

Moïse, de 53 anos, foi baleado 12 vezes na testa e no torso. Seu olho esquerdo foi arrancado e os ossos do braço e do tornozelo foram quebrados. A primeira-dama, Martine Moïse, também foi baleada, mas sobreviveu.

A polícia haitiana alega que um grupo de mercenários principalmente estrangeiros - 26 colombianos e dois haitianos americanos - compôs o grupo que executou o assassinato.

Enquanto as investigações prosseguem, o país mergulhou em nova onda de violência.

Ariel Henry, que havia sido nomeado por Moïse como novo primeiro-ministro, assumiu interinamente o país, mas ele vem sendo contestado por diversos grupos. Existe um acordo entre facções para que Henry permaneça no poder até a realização de eleições neste ano, que ainda não foram marcadas.

Algumas gangues têm exigido que Henry renuncie, e o premiê escapou de um atentado contra sua vida em janeiro. As gangues vêm espalhando violência pelo país e são financiadas em parte pelo sequestro de estrangeiros, que se tornou um problema sério para as autoridades. No ano passado, mais de 800 pessoas foram sequestradas por gangues no Haiti.

Para piorar a situação, o Haiti sofreu um terremoto em agosto, um mês após o assassinato de Moïse, matando mais de 2 mil pessoas, agravando ainda mais a situação humanitária da população.

O Haiti também virou manchete internacional por conta do grande fluxo de imigrantes ilegais que tentaram cruzar para os EUA em outubro do ano passado.

Grupos internacionais alertam que a instabilidade do governo e a escalada de violência - somados a problemas econômicos e desastres naturais - podem fazer com que a disputa entre gangues no Haiti se transforme em um conflito armado.

5. Síria

Protestos inicialmente pacíficos contra o presidente Bashar al-Assad da Síria em 2011 se transformaram em uma guerra civil de grande escala, que já dura mais de uma década.

O conflito deixou mais de 380 mil mortos, arrasou cidades e envolveu outros países estrangeiros. Mais de 200 mil pessoas estão desaparecidas - presume-se que morreram.

Em março de 2011, manifestações pró-democracia eclodiram na cidade de Deraa, no sul, inspiradas pela Primavera Árabe. Quando o governo sírio usou força letal para esmagar a dissidência, protestos exigindo a renúncia do presidente eclodiram em todo o país.

A violência aumentou rapidamente e o país mergulhou na guerra civil. Centenas de grupos rebeldes surgiram e não demorou muito para que o conflito se tornasse mais do que apenas uma batalha entre sírios a favor ou contra Assad. Potências estrangeiras - como Rússia, EUA, Reino Unido e França - começaram a tomar partido, enviando dinheiro, armas e combatentes, e à medida que o caos piorava, organizações jihadistas extremistas com seus próprios objetivos, como o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda, também se envolveram.

O conflito é um dos mais sangrentos do planeta dos últimos anos. Mais de 2 milhões de pessoas sofreram algum tipo de ferimento. Mais da metade da população do país antes da guerra (que era de 22 milhões) tiveram de deixar suas casas. Muitos estão dentro do país ainda, mas Líbano, Jordânia e Turquia receberam grande parte dos refugiados.

A guerra diminuiu em intensidade, já que Assad conseguiu dominar boa parte do país. Mas ainda há resistência em diversas partes da Síria, e observadores internacionais acreditam que o conflito não está perto do fim - o que deve provocar ainda mais mortes e problemas humanitários nos próximos anos.

6. Militantes islâmicos na África

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Após a derrocada do EI em 2017 no Oriente Médio, grupos de militantes islâmicos se voltaram cada vez mais para a África, onde governos fragilizados nem sempre conseguem combater a sua influência.

Grupos jihajistas tentam dominar diversas regiões de diferentes países — como Mali, Niger, Burkina Faso, Somália, Congo e Moçambique.

Em Moçambique, acredita-se que uma milícia na região de Cabo Delgado tenha ligações com o grupo do EI.

Cabo Delgado possui ricas reservas de gás natural offshore que estão sendo exploradas em colaboração com empresas multinacionais de energia. Mas altos níveis de pobreza e disputas sobre acesso à terra e empregos fazem com que muitos decidam se juntar às milícias islâmicas.

Os ataques de grupos militantes aumentaram significativamente no ano passado.

Grupos de direitos humanos dizem que houve extensa destruição em todo o norte de Moçambique pelos militantes, com relatos de assassinatos, decapitações e sequestros. Em um incidente, 50 pessoas foram decapitadas em um campo de futebol em um fim de semana.

Diante da crescente insurgência, o governo moçambicano convidou conselheiros militares dos EUA para que soldados americanos treinem as forças locais.

No ano passado, o governo de Moçambique aceitou receber tropas de Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), um bloco regional. Essas forças reverteram os ganhos dos insurgentes, embora os militantes pareçam estar se reagrupando.

Há temores de que esse conflito possa ser prolongado, gerando inúmeras mortes e problemas humanitários.

7. Afeganistão

O Afeganistão já foi um dos conflitos mais noticiados do mundo, após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

O governo americano invadiu o país alegando que o Talebã esteve por trás dos atentados. Após duas décadas de intensos combates e milhares de mortes, o Talebã voltou ao poder em agosto de 2021.

O nível de violência caiu bastante no país, mas ONGs alertam agora que o país enfrentará possivelmente uma das mais graves crises humanitárias que já se viu por causa das sanções e isolamento impostos por grande parte do mundo.

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