Um novo agrupamento do vírus da dengue tipo 1, do genótipo V, foi identificado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na cidade de Feira de Santana, na Bahia. Segundo a Fundação, os pesquisadores realizaram sequenciamento genético do vírus da dengue de pacientes residentes na cidade e obtiveram 19 genomas de dois tipos do vírus da dengue: tipo 1 (17) e tipo 2 (2). As análises filodinâmicas e epidemiológicas também revelaram a persistência do genótipo III do tipo 2.
O trabalho foi coordenado pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Isadora Siqueira, e foram publicados na “Viruses“, importante revista de virologia. Para a Fiocruz, os achados reforçam o papel crucial da vigilância genômica para acompanhar a evolução das cepas circulantes de dengue e entender sua disseminação pela região, bem como os possíveis impactos sobre saúde pública e gestão de surtos.
Dados da Fiocruz apontam que entre 2017 e 2022, foram registrados mais de 3 milhões de casos de dengue no país, com concentração maior na região do Nordeste. Devido ao cenário epidemiológico alarmante, promover a vigilância genômica de cepas virais circulantes é fundamental para antecipar possíveis impactos na saúde da população e orientar a resposta a surtos.
"Como o uso em larga escala de uma vacina contra o vírus da dengue se torna cada vez mais iminente, é vital fornecer dados genômicos sobre a diversidade viral em uma determinada localidade, bem como descrever sua distribuição espacial e identificar áreas de risco. Essas informações são essenciais para a tomada de decisões em saúde pública e para a identificação de áreas de risco, bem como de grupos vulneráveis, além de ser fundamental para o desenvolvimento de medidas preventivas e campanhas de conscientização", informou a Fiocruz.
Ressurgimento de tipos de dengue preocupa
Recentemente, a Fiocruz identificou, no país, casos de sorotipo 3 do vírus da dengue, após 15 anos sem epidemia. O estudo revela que quatro casos da infecção foram registrados neste ano, sendo três em Roraima, na região Norte, e um no Paraná, no Sul do País.
“Neste estudo, fizemos a caracterização genética dos casos de infecção pelo sorotipo 3 do vírus dengue. É um indicativo de que poderemos voltar a ter, talvez não agora, mas nos próximos meses ou anos, epidemias causadas por esse sorotipo”, afirma o virologista Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia e pesquisador do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz.
O vírus transmitido pelo aedes aegypti possui quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Quando uma pessoa é infectada por um dos quatro sorotipos, torna-se imune a todos os tipos de vírus durante alguns meses e posteriormente mantém-se imune, pelo resto da vida, ao tipo pelo qual foi infectada. No entanto, caso volte a ter dengue, um dos outros três tipos do vírus que ainda não contraiu, poderá apresentar ou não uma forma mais grave. A maioria dos casos de dengue hemorrágica ocorre em pessoas anteriormente infectadas por um dos quatro tipos de vírus.
“O risco de uma epidemia com o retorno do sorotipo 3 ocorre por causa da baixa imunidade da população, uma vez que poucas pessoas contraíram esse vírus desde as últimas epidemias registradas no começo dos anos 2000. Existe ainda o perigo da dengue grave, que ocorre com mais frequência em pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente, por outro sorotipo”, alerta a entidade.