Nos dias logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, o rublo enfrentou uma desvalorização recorde. O valor da moeda russa continuou em queda em relação ao dólar à medida que sanções impostas pelos países ocidentais contra Moscou se acumulavam, com grande parte das reservas em moeda estrangeira do banco central russo congeladas, e agências de risco de crédito derrubando o status da Rússia. Até o início de março, o rublo havia se desvalorizado em mais de um terço.
Porém, o rublo se recuperou desde então, e agora vem sendo negociado a valores registrados antes da invasão, num sinal de que os impactos iniciais das sanções – algumas das mais duras da história – podem estar desaparecendo.
Parte dessa recuperação pode ser explicada pela posição financeira mais forte em que a Rússia se encontra devido a um grande aumento das receitas da exportação de petróleo e gás e a uma queda acentuada das importações. Se seus principais clientes, incluindo a União Europeia, continuarem comprando petróleo e gás, a Bloomberg Economics estima que a Rússia fature quase 321 bilhões de dólares com a exportação energética em 2022, o que representaria um aumento de mais de um terço em relação ao ano passado.
Especialistas avaliam ainda que a recuperação do rublo também é resultado da intervenção do banco central russo, que tem aplicado uma política de controle de capital. "Os movimentos da moeda não representam os fundamentos da Rússia. Na maioria das vezes, esses fundamentos refletem na moeda. Mas quando controles de capital são colocados em prática, essa imagem é ofuscada", afirma Craig Erlam, analista de mercado sênior da OANDA.
"Não há como dizer que a economia russa está agora no mesmo patamar que em meados de fevereiro, antes do início da invasão, mesmo com a moeda dando essa impressão", acrescenta.
Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa que a economia russa deveria crescer 2,8% neste ano. As atuais previsões, porém, indicam uma contração de 10% a 15%.
Impulso artificial
Com a forte queda do rublo provocada pela invasão e consequente sanções, o banco central russo entrou em ação para tentar apagar o incêndio. Entre as medidas adotadas estão o aumento da taxa básica de juros do país para 20%, a restrição do acesso a moedas estrangeiras por empresas locais e limites para saques em moeda estrangeira. Também adotou ações para impedir a fuga de dólares para o exterior, inclusive proibindo investidores estrangeiros de vender ações e títulos russos.
O rublo ganhou ainda outro impulso quando o presidente Vladimir Putin exigiu de países "hostis" o pagamento do gás exportado em moeda russa, e não mais em dólares ou euros. Putin, porém, flexibilizou essa posição e permitiu pagamentos em moeda estrangeira, desde que fossem realizados por meio de contas especiais do banco russo Gazprombank, que converteria esses valores em rublos.
"Isso está efetivamente sustentando o rublo de maneira artificial enquanto aparenta forçar os compradores de países hostis a usar a moeda russa", avalia Erlam. "É como as medidas já impostas ao Gazprombank e outros já em termos de forçá-los a converter 80% de seus pagamentos para rublos. Isso segue apoiando esse tipo de medida desesperada."
Manipulação do rublo
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que a aparente valorização do rublo está sendo impulsionada por "uma série de manipulações". "Pessoas estão sendo impedidas de se desfazer de rublos. Isso gera uma valorização artificial. Não é sustentável. Assim, acredito que veremos uma mudança", disse no domingo em entrevista à emissora NBC.
Muitos corretores e especuladores mantém a cautela em relação à moeda russa. Isso significa que o preço de mercado do rublo está sendo determinado por muito menos transações do que o normal.
A longo prazo, as perspectivas para o rublo parecem menos otimistas, apesar da recente recuperação. A moeda russa, que se desvalorizou consideravelmente nas últimas duas décadas em relação ao dólar, deve perder ainda mais valor com o Ocidente buscando alternativas ao gás e petróleo da Rússia, que são a salvação da economia do país.