Por Globo Rural
É no município de Uberaba, no Triângulo Mineiro, que fica a fazenda de José Hamilton Ribeiro, jornalista aposentado do Globo Rural e o repórter mais premiado do Brasil.
A pandemia o pegou durante uma temporada de descanso em sua propriedade. É uma fazenda de produção, onde cultiva eucalipto - que acaba de ser cortado e está em fase de rebrota -, cana, milho, um lote de gado de corte e um pequeno rebanho de leite.
A paisagem na fazenda é de se admirar: na parte de reservas, há uma vereda, buritis ainda tostados pela geada do inverno passado e nascentes que formam o ribeirão que corta a propriedade.
Ainda assim, Hamilton brinca que a única coisa que ele sabe fazer bem na fazenda é cuidar dos canários que ficam ao fundo da propriedade.
Durante a visita da equipe de reportagem do Globo Rural, matérias que Hamilton realizou no programa são lembradas.
Repórter vira notícia
Considerando a atual idade média da população brasileira, de cerca de 30 anos, é possível afirmar que dois em cada três cidadãos não tinham nascido ainda quando o José Hamilton começou a fazer reportagens, em 1954.
Em pouco tempo de carreira, ele já entrevistava grandes figuras do cenário político, como os ex-presidentes do Brasil João Goulart, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek.
O jornalista conta que chegou em Brasília no dia de sua inauguração. A cidade já estava lotada, não havendo nem mais hotel disponível para ficar.
Pela Realidade - revista brasileira que revolucionou a categoria, trazendo o chamado jornalismo literário, com o repórter vivendo os fatos -, Hamilton foi cobrir a Guerra do Vietnã em 1978. Durante o trabalho, ele mesmo virou notícia da capa ao ser mutilado e perder uma das pernas.
Atualmente aposentado, Hamilton ganhou um centro de memórias em um prédio que foi de um antigo presídio em Santa Rosa de Viterbo, no interior paulista, sua terra natal.
“Lá, é possível ver a sua lista de prêmios, que é imensa. Só de Prêmio Esso, a distinção mais importante da imprensa brasileira no século passado, foram sete”.
Medalha de ouro da Universidade de Columbia
Ele também ganhou destaque na Organização das Nações Unidas (ONU), a medalha de ouro da Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, a láurea Mary Cabot. Foram inúmeras as condecorações e honrarias.
Hamilton venceu um concurso de brasileiro imortal, sendo escolhido para dar nome a um novo tipo da planta antúrio descoberta na Amazônia: a “Hamiltone”
De jornalista a fazendeiro
Na fazenda de Uberaba, enquanto um trata das galinhas, outros se dedicam à silagem das roças de milho.
Hamilton terceirizou a administração da propriedade. As partes de eucalipto e de cana ocupam áreas arrendadas. Ao todo, entre parceiros e colaboradores, a propriedade conta com uma equipe de dez pessoas.
Além de cuidar dos passarinhos, o dono da fazenda também se dispõe a tratar, de vez em quando, das matrinxãs, no pesqueiro localizado na ponta da vereda.
O restante de seus afazeres se resume em caminhar pela propriedade. Ele também gosta de nadar, como já mostrou até em algumas de suas reportagens. Suas companhias favoritas na atividade são suas netas, filhas e namorada.
As lembranças em São Paulo
A única rotina a que Hamilton se obriga é a da leitura. Seja na fazenda, folheando trabalhos que lhe mandam para comentar, prefaciar; livros sobre os quais pretende escrever artigos, seja no apartamento que ainda mantém em São Paulo - onde fica para cumprir os periódicos de saúde - e passa de três a cinco horas por dia lendo
Foi no apartamento onde ele escreveu a maioria das reportagens e dos 17 livros que lançou. No local, Hamilton guarda objetos e fotos de família. A esposa, Cecília Romano Ribeiro, também jornalista, com quem teve duas filhas, morreu de câncer em 2010, quando completavam 48 anos de casados.
Entre os objetos guardados, está o reconhecimento de muita honra como a gravura feita, em 1977, pelo grande escritor e cartunista Millôr Fernandes: “Ao Hamilton com afeto que se encerra em meu peito juvenil".
Fã da viola
Apesar de não ser cantor, Hamilton gosta de acompanhar as rodas de cantorias. Em Uberaba, dizem que, se quiser encontrá-lo, é só ir à roda de viola mais próxima - especialmente, se estiver tocando o Júnior Borges, companheiro de várias matérias e com quem escreveu o livro "As 270 Maiores Modas de Todos os Tempos".
Em mais de 12 de reportagens, o Globo Rural rendeu tributo à música caipira, na voz do José Hamilton.
Resgatou Carreirinho, autor paulista de muitos sucessos como Ferreirinha. Levou Mário Zan para conhecer uma chalana de verdade na beira do rio Paraguai. E o pôs a cantar com Almir, Renato Teixeira, registrou os 70 anos de carreira das Galvão, entre outras.