Três questões essenciais movem as atenções do Presidente Lula na Bélgica, onde participa da cúpula que reúne 60 países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia, um encontro que vai até esta terça-feira, reeditando reunião igual ocorrido no ano de 2015.
O primeiro tema relevante a ocupar a preocupação do dirigente brasileiro diz respeito justamente às questões econômicas, pois agora, sendo presidente do Mercosul, Lula teve aumentada sua responsabilidade e fortalecido o empenho no sentido de ver finalmente construído e assinado o acordo comercial entre os países latinos e os estados europeus, uma peleja que vem se arrastando desde 1995, quando vieram as primeiras tentativas de um tratado de livre-comércio entre os dois importantes blocos.
Desde lá, apesar de sucessivas manifestações de interesse de ambas as partes para a conclusão do acordo, os dois lados seguem sem um entendimento, periodicamente surgindo dúvidas sobre as possibilidades concretas de sua viabilização, como agora estão ocorrendo em decorrência de imposições e desconfianças impostas pela França, que quer que a União Europeia atue punitivamente em relação aos países latinos. Uma exigência que os países do Mercosul, por manifestações já reiteradas por Lula, não podem admitir.
O ponto central dos desentendimentos entre os franceses, sobretudo estes, diz respeito a um significativo temor de que produtos agrícolas europeus sejam levados a prejuízos irreparáveis, diante da concorrência que teriam com os latinos. Um receio em que, claramente, está embutido o reconhecimento de que os países da Comunidade Europeia não avançaram suficientemente na modernização, atualização e desenvolvimento tecnológico relativos à agricultura e à pecuária, a ponto de expressarem formalmente esse medo de competição.
QUESTÕES CLIMÁTICAS
Outro tema essencial na agenda de Lula e do Mercosul trata das questões climáticas, agravadas a cada dia que passa, surpreendendo e causando pânico em muitos países, especialmente na Europa, logo eles que historicamente atuaram nos processos crescentes de degradação da natureza, promovendo uma ocupação desordenado dos solos ao redor do mundo e dando, assim, sua contribuição nociva ao estágio em que hoje a terra se encontra.
Neste fim de semana, por exemplo, em meio a uma onda elevadíssima de calor, o Hemisfério Norte viu suas autoridades e governantes disparando alertas de risco, em face de novos recordes de temperatura no mundo. Quase um quarto da população dos Estados Unidos está sob alerta de calor extremo. E isso está chegando a outros países, carregando a previsão de que se registrarão temperaturas recordes na América do Norte, Europa e Ásia, em mais uma demonstração das consequências das mudanças climáticas. Na Europa, o aquecimento avança duas vezes mais rápido do que a média mundial, e vários países terão temperaturas extremas, nunca visas até hoje em toda a história.
Nesse domingo, pelo menos 16 cidades da Itália entraram em alerta vermelho, com máximas de 36 e 37 graus, num país habituado secularmente ao frio.
E Lula dirá, certamente, que os europeus e norte-americanos, destacadamente, têm a mão colocada nessa ferida, em razão de um intervencionismo desastroso que causou danos estupendos à natureza, ao longo da história, e que ainda seguem promovendo, sem qualquer demonstração visível de arrependimento e de disposição política para reparar os gigantes desgraças geradas.
O último e relevante ponto que o Presidente Lula leva à reflexão dos líderes mundiais diz respeito à corrida armamentista. No seu primeiro discurso, na manhã dessa segunda-feira, em Bruxelas, o dirigente brasileiro já deu o tom das suas manifestações oficiais, ao dizer que a guerra no coração da Europa, referindo-se ao conflito armado entre Rússia e Urânia, “lança sobre o mundo o manto da incerteza e canaliza para fins bélicos recursos até então esperados para a economia e programas sociais.”
E foi na mosca: “A corrida armamentista dificulta ainda mais o enfretamento da mudança do clima”, citando que em 2022 o mundo gastou em armamentos mais de US$ 2 trilhões, um valor que é considerado um recorde segundo o Instituto de Pesquisas pela Paz, de Estocolmo. Quando se registrou o primeiro ano da guerra, em fevereiro de 2023, Europa e Estados Unidos já tinham mandado para a Ucrânia mais de US$ 100 bilhões, para alimentar o conflito, um valor muito superior à soma do que todos os países ricos destinaram para cuidar das questões climáticas.