A clássica preguiça de sair da cama nos dias frios tem fundamento científico. No inverno, nosso corpo precisa trabalhar mais para manter a temperatura estável, o que exige maior gasto energético, mesmo em repouso. Isso acontece porque o organismo prioriza funções internas essenciais, diminuindo a disposição para atividades externas.
Esse aumento no gasto de energia gera cansaço e sonolência, enquanto os dias mais curtos e com menos sol alteram o ritmo circadiano, o relógio biológico que regula sono e alimentação.
A menor exposição à luz solar também reduz a liberação de serotonina, hormônio ligado ao humor e bem-estar, o que pode deixar as pessoas mais desanimadas ao longo do dia.
“A temperatura mais baixa reduz a vasodilatação periférica e a sensação de ‘alerta’, favorecendo um estado de economia de energia. Em termos evolutivos, é um mecanismo de proteção”, explica a médica nutróloga Camila Ciancio.
Hormônios, alimentação e sono
Quando o frio se intensifica, o cérebro envia sinais à tireoide para aumentar a produção de calor. Mas, se essa glândula não der conta da demanda, o cansaço aparece com mais intensidade.
“Se a pessoa estiver constantemente indisposta, é importante investigar a função da tireoide”, orienta a endocrinologista Carolina Janovsky, professora da UNIFESP.
A escuridão prolongada das noites de inverno também eleva os níveis de melatonina, o hormônio do sono, enquanto a falta de sol reduz ainda mais a serotonina. Além disso, o aumento do consumo de alimentos calóricos e pesados, comum nessa estação, pode acentuar a sensação de letargia.
Como driblar a preguiça de inverno
Apesar de naturais, essas alterações podem ser amenizadas com mudanças no estilo de vida. Veja as principais recomendações:
Aposte na luz
A exposição à luz natural logo pela manhã ajuda a regular o relógio biológico. Abrir janelas ao acordar ou usar caixas de fototerapia (com 10.000 lux por 20 a 30 minutos) pode melhorar a disposição e prevenir sintomas do Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), uma forma de depressão ligada à falta de luz.
“Sem luz suficiente durante o dia, o corpo produz menos serotonina e mais melatonina fora de hora, o que explica sintomas como sonolência diurna, alterações de humor e distúrbios do sono”, diz Ciancio.
Mexa-se todos os dias
Exercícios físicos diários, mesmo leves como caminhadas, alongamentos ou yoga, ajudam a liberar endorfinas e melhorar o humor. Se puder, pratique ao ar livre pela manhã para aproveitar a luz natural.
“A regularidade é mais importante que a intensidade. O importante é se mover todo dia”, reforça Ciancio.
Coma bem
Manter uma alimentação equilibrada é essencial: inclua proteínas magras, cereais integrais, frutas, vegetais e fontes de ômega-3. Evite ultraprocessados e açúcares em excesso, que aumentam inflamação e pioram o humor.
“Sopas, caldos, chás e especiarias como gengibre, canela e cúrcuma são aliados. Comer bem ajuda a manter a energia corporal mesmo no frio”, recomenda Ciancio.
Hidrate-se
Mesmo com menos sede, o corpo continua perdendo líquidos no inverno, especialmente por causa do ar seco e da calefação. Por isso, beber bastante água continua sendo essencial.
Mantenha conexões
Evite o isolamento. O convívio social é um fator importante para manter o humor em dia durante os meses frios.
Quando procurar ajuda?
Se a indisposição for extrema ou durar muitas semanas, é necessário procurar um médico.
“Quando os sintomas são intensos ou persistentes, devemos pensar em transtornos como TAS, hipovitaminose D, hipotireoidismo ou anemia”, alerta Janovsky.
Nesses casos, tratamentos como fototerapia, psicoterapia e, se indicado, o uso de medicamentos podem fazer parte do cuidado.
A boa notícia é que, com algumas mudanças simples e atenção aos sinais do corpo, é possível enfrentar o frio sem perder o ânimo e até aproveitar a estação para desacelerar com equilíbrio.