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Estudo revela por que o diabetes tipo 1 atinge crianças com mais gravidade

O diabetes tipo 1 ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói as células pancreáticas responsáveis por controlar a glicose no sangue.

Gracie Nye no hospital, onde recebeu seu primeiro diagnóstico de diabetes tipo 1 | Foto: Nye family/BBC
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Pesquisadores finalmente conseguiram explicar por que o diabetes tipo 1 se manifesta de forma mais severa quando surge em crianças pequenas. A resposta está diretamente ligada ao estágio de desenvolvimento do pâncreas nessa fase da vida.

O diabetes tipo 1 ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói as células pancreáticas responsáveis por controlar a glicose no sangue. Segundo os cientistas, esse órgão ainda está em processo de formação durante a primeira infância — especialmente antes dos sete anos — o que o deixa mais exposto a danos.

A pesquisa indica que, se novos tratamentos forem capazes de proteger o pâncreas por tempo suficiente para que ele amadureça, seria possível retardar o avanço da doença e reduzir seu impacto. No Reino Unido, cerca de 400 mil pessoas convivem com o diabetes tipo 1.

Um exemplo dramático dessa realidade é o de Gracie, hoje com oito anos, moradora de Merseyside. Em 2018, durante o Halloween, ela começou a apresentar sintomas semelhantes a um resfriado comum, mas rapidamente evoluiu para um quadro crítico.

“Ela passou de uma menina alegre, que brincava e cantava, para quase perder a vida em menos de dois dias”, relembra o pai, Gareth. Para ele, o diagnóstico transformou completamente a rotina da família: “Tudo ficou 10 ou 20 vezes mais difícil.”

A adaptação foi imediata. Os pais passaram a monitorar o que Gracie comia e bebia, acompanhar seus níveis de glicose e aplicar insulina regularmente para manter o organismo funcionando. Hoje, com a ajuda de uma bomba de insulina e um monitor contínuo de glicose, ela leva uma vida muito mais controlada — e, segundo o pai, “está indo extremamente bem”.

Doença em criança

Apesar disso, por muitos anos permaneceu a dúvida: por que crianças tão jovens quanto Gracie, especialmente as menores de sete anos, desenvolvem uma forma mais agressiva da doença do que adolescentes ou adultos?

A resposta foi apresentada em um estudo publicado na revista Science Advances. A equipe de pesquisadores analisou amostras de pâncreas de 250 doadores, o que permitiu observar como as células beta — responsáveis pela produção de insulina — se desenvolvem desde a infância.

Os cientistas descobriram que, nos primeiros anos de vida, essas células aparecem isoladas ou em pequenos grupos. Com o tempo, elas se multiplicam e se organizam em estruturas maiores, chamadas ilhotas de Langerhans, que são mais resistentes.

No entanto, quando o sistema imunológico inicia o ataque característico do diabetes tipo 1, essas pequenas células beta ainda imaturas são destruídas rapidamente, sem que tenham a chance de evoluir. Já as ilhotas maiores também sofrem danos, mas conseguem resistir por mais tempo, preservando pequenas quantidades de insulina e, assim, reduzindo a gravidade da condição.

Para a pesquisadora Sarah Richardson, da Universidade de Exeter, os resultados representam um avanço significativo na compreensão do diabetes tipo 1. Em entrevista à BBC, ela destacou que a descoberta ajuda a explicar o comportamento mais agressivo da doença em crianças pequenas e abre caminho para novas abordagens de tratamento.

Segundo ela, o cenário para o futuro é animador. A expectativa inclui programas de triagem para identificar a doença antes dos sintomas e terapias imunológicas capazes de desacelerar sua progressão.

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