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Cérebro de homens e mulheres encolhe em ritmos diferentes, diz estudo

Pesquisa mostra que o cérebro masculino perde volume mais rápido que o feminino, mas isso não explica por que mulheres ainda são mais afetadas pelo Alzheimer.

Um cérebro saudável (à esquerda) e um cérebro afetado pela doença de Alzheimer (direita) | Foto: Anatomical Travelogue/SPL
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O envelhecimento provoca transformações inevitáveis no cérebro humano, entre elas, a redução de massa cinzenta e de volume em diversas regiões. No entanto, o ritmo dessa perda parece variar entre os sexos. Um novo estudo aponta que os cérebros masculinos encolhem mais rapidamente do que os femininos, e que mais áreas são afetadas nesse processo.

Publicado na última segunda-feira (13) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), o estudo amplia a compreensão científica sobre o envelhecimento cerebral típico. Ao mesmo tempo, levanta novas dúvidas: se os homens perdem volume cerebral com mais rapidez, por que as mulheres continuam sendo as mais diagnosticadas com Alzheimer?

Estudo analisa milhares de exames

A pesquisa é considerada uma das mais abrangentes já realizadas sobre o tema. Foram analisados mais de 12,5 mil exames de ressonância magnética de 4.726 pessoas sem Alzheimer ou outros comprometimentos cognitivos. Cada participante realizou pelo menos dois exames, com intervalo médio de três anos, o que permitiu observar como o cérebro muda com o tempo.

Os cientistas avaliaram a espessura da substância cinzenta e o volume de regiões associadas à memória e à doença de Alzheimer, como o hipocampo e o pré-cúneo. Ao comparar os resultados, constataram que os homens apresentaram uma redução mais acentuada e generalizada.

Um exemplo marcante foi o córtex pós-central, responsável pelo tato, pela dor e pela percepção de movimento. Nessa região, o declínio foi de 2% ao ano nos homens, contra 1,2% nas mulheres.

De acordo com especialistas ouvidos pela revista Nature, os achados sugerem que os homens envelhecem mais rápido também do ponto de vista cerebral, o que condiz com a expectativa de vida menor da população masculina.

Enigma das diferenças entre os sexos

Embora o envelhecimento seja o maior fator de risco para o Alzheimer, as alterações estruturais observadas não explicam por que as mulheres são as mais afetadas pela doença.

Se o cérebro das mulheres declinasse mais rapidamente, isso poderia ter ajudado a explicar sua maior prevalência de Alzheimer”, afirma Anne Ravndal, doutoranda da Universidade de Oslo e coautora do estudo, em entrevista à Nature. “Mas o resultado foi o oposto: os cérebros masculinos mostraram um declínio mais acentuado.

Esses resultados indicam que outros fatores podem estar por trás da diferença, como questões hormonais, genéticas ou mesmo relacionadas à maior longevidade feminina. Caso as mudanças estruturais tivessem ligação direta com o Alzheimer, seria esperado um declínio mais expressivo em regiões-chave da doença nas mulheres, como o hipocampo, o que não foi identificado.

Novas hipóteses no horizonte

As descobertas reforçam que as diferenças biológicas no envelhecimento cerebral não bastam para explicar o impacto desigual da demência entre homens e mulheres. Isso abre caminho para novas investigações sobre o papel de genes, hormônios e fatores ambientais.

Segundo Ravndal, “os resultados apontam para outras possíveis explicações para as diferenças sexuais na prevalência da doença de Alzheimer, como diferenças na sobrevivência ou na vulnerabilidade à doença”.

Com o avanço da idade média global, compreender como o cérebro envelhece em cada sexo pode ser essencial para o desenvolvimento de tratamentos personalizados e estratégias preventivas mais eficazes um passo importante diante do desafio crescente da demência no século XXI.

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