Primeira pergunta: faz diferença a hora em que saímos para caminhar? Andar faz bem a qualquer hora do dia ou da noite, mas estudos indicam que fazer isso de manhã tem benefícios adicionais. Isso porque não se trata apenas de movimento, mas também de luz.
A luz natural é vital para o nosso corpo, mas não é a mesma coisa sair na hora do almoço, à tarde, depois do trabalho ou de manhã, já que esta última opção alerta o corpo e o cérebro de que o dia começou. A luminosidade ajuda a acertar nosso relógio interno, aquele que avisa seu corpo quando dormir e quando acordar. A sua caminhada matinal irá confirmar que o dia começou e assim, à noite, quando quiser dormir, o seu corpo estará mais pronto para fazer isso.
A exposição matinal reduzirá a produção de melatonina, o hormônio que nos estimula a dormir, e isso tem uma tendência de te deixar mais acordado. Portanto, se você tiver dificuldade em adormecer, uma das possíveis explicações (há várias) é que você não esteja recebendo luz natural suficiente, principalmente de manhã. Então, expor-se a ela pode te ajudar.
Além disso, pesquisas mostram que essa prática pode ter um impacto positivo na quantidade e na qualidade do sono, te impedindo de acordar durante a noite e te ajudando a ter um sono mais profundo.
Mas como fazer isso se você não é uma pessoa madrugadora? Como encaixar isso na rotina?
Embora o mundo seja habitado por gente que age como corujas e sabiás (os notívagos e os madrugadores respectivamente), são estes últimos que tendem a impor as suas vontades.
Se você é uma coruja que está sendo pressionada a mudar, um truque simples para treinar é justamente a caminhada matinal, que segundo os especialistas começa a dar resultados em questão de semanas. E não se preocupe se não conseguir acordar cedo: a ideia é dar uma caminhada até duas horas depois de se levantar da cama. Isso também pode ajudar se você trabalha em turnos ou se seu horário de trabalho não é convencional. No entanto, se você está acordado quando o Sol está saindo, ainda melhor.
Ainda que pareça que o dia não está muito iluminado, esse momento é quando há uma maior proporção de luz azul (de onda curta), a que nossos receptores são particularmente sensíveis e podem ter efeitos positivos.
Uma das peculiaridades do seu relógio biológico é que seu tempo geralmente não é de 24 horas, mas um pouquinho mais.
A luz brilhante restabelece o ritmo cada manhã e, por alguma razão, isso é particularmente benéfico para todas as pessoas que vivem em regiões em que há um inverno mais delimitado.
Como os dias são mais curtos, há menos luz e o corpo perde a sincronia, o que faz com que algumas pessoas percam ânimo e possam até desenvolver depressão.
Reajustar nossos relógios biológicos pela manhã ajuda a evitar que nos sintamos cansados e confusos, e não se trata apenas dos níveis de melatonina. A exposição à luz do dia também desencadeia a liberação de uma substância chamada serotonina, que faz com que nos sintamos bem.
É um impulso natural para o humor tão poderoso que pode realmente redefinir a química do seu cérebro.
A próxima pergunta é: como caminhar?
Rápido, com força, com energia.
Isso é o que descobriu Marie Murphy, professora de exercício e saúde na Universidade do Ulster, na Irlanda do Norte, que liderou um grande estudo sobre o assunto. "Reunimos pesquisas de 11 populações diferentes nas quais as pessoas foram perguntadas por quanto tempo e com que velocidade andavam. Em seguida, fizemos uma análise estatística para ver qual efeito isso teve na mortalidade por doenças cardiovasculares e por câncer", explicou Murphy à BBC.
"Descobrimos que, no caso de mortalidade por câncer, simplesmente andar reduzia mais o risco, mas para doenças cardiovasculares, andar rapidamente proporcionava maior proteção".
Estudos apontam que o ritmo deve te permitir falar enquanto anda sem ficar sem fôlego
"O risco de doenças cardiovasculares é reduzido entre 10% e 20% se você andar mais rápido."
Mas o que significa "mais rápido"?
Você saberá se está caminhando no ritmo que mais o beneficia, diz o especialista, "quando sentir seus batimentos cardíacos, calor e uma taxa de respiração mais alta do que o normal, mas ainda conseguir falar sem perder o fôlego".
"Temos a tendência de dizer às pessoas que esse ponto é quando você pode falar, mas não pode cantar."
Questionada sobre o impacto de caminhar antes ou depois do café da manhã, Murphy afirma que "as evidências são contraditórias".
"Se você andar em jejum, pode ter melhores efeitos no controle glicêmico e há algumas evidências de que pode ser melhor para perder peso", embora existam estudos mostrando como caminhar após o café da manhã ajuda o corpo a processar gordura e açúcar. Na minha avaliação, você já passou uma noite em jejum, então provavelmente é melhor pelo menos colocar algo em seu sistema para começar."
Próxima pergunta: caminhar quanto?
Então: para obter mais benefícios dessa prática, você tem que andar em um ritmo que te impeça de cantar, mas não de falar, principalmente de manhã, talvez melhor depois do café da manhã e... por quanto tempo?
"As diretrizes atuais apontam que as pessoas devem ser fisicamente ativas por 30 minutos por dia."
E embora tenhamos falado muito sobre os benefícios dessas caminhadas que acontecem nas primeiras horas da manhã, isso não significa que devam ser 30 minutos seguidos de atividade.
"Caminhar é perfeito para dividir as sessões ao longo do dia, ao contrário de outros tipos de exercício." E pode se encaixar na rotina de muito mais gente que praticamente não tem espaço, ânimo ou motivação para isso ao longo do dia. Se você preferir caminhar um pouco pela manhã, talvez novamente depois do almoço e à noite, "os benefícios são exatamente os mesmos. Além do mais, achamos que eles poderiam ser um pouco maiores porque você estimula o seu metabolismo mais vezes."
Na verdade, Murphy acredita que agora que tantos de nós estamos trabalhando em casa, esse modelo é ideal, pois implica que "você se levante duas ou três vezes durante o dia, reativando a circulação e o cérebro".