SAMUEL FERNANDES - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Uma nova pesquisa concluiu que o consumo de alimentos ultraprocessados tem associação com o aumento de riscos para desenvolvimento de câncer, principalmente o de ovário. As chances de morrer pela doença também crescem quando há histórico de consumo exagerado desse tipo de produto.
São exemplos desses alimentos refrigerantes, bebidas lácteas, margarinas, salgadinhos de pacote e pães embalados.
A alimentação dos participantes foi segmentada em quatro tipos: sem ingestão ou com pouquíssimo consumo de comidas processadas; uso de ingredientes processados, como azeite e manteiga; consumo de alimentos processados (como conservas de legumes, queijos e pães artesanais); e alimentação baseada principalmente em comidas ultraprocessadas. Esse último representava cerca de 23% da ingestão diária de calorias entre todos os participantes.
Os pesquisadores acompanharam todos os integrantes do estudo por cerca de dez anos, de forma a observar qual deles desenvolveu algum tipo de tumor -no total, foram 15.921- e comparar o aparecimento da doença com o padrão alimentar observado.
De forma geral, a pesquisa concluiu que o aumento de 10% da ingestão diária de alimentos ultraprocessados na dieta de uma pessoa já acarretava maiores chances de risco de qualquer câncer em cerca de 2%. Para alguns tipos de tumores, no entanto, esse percentual era maior.
O câncer de ovário é o principal deles: a cada 10% de aumento da ingestão de ultraprocessados, o risco de apresentação do câncer aumenta em 19%. Em seguida, vem o câncer de tireoide, com aumento em 11%.
Foram comparados os grupos nos dois extremos de hábitos de alimentação: aqueles que comiam baixos níveis de ultraprocessados, em que ingestão era restrita a cerca de 10%; e o grupo formado por participantes que abusavam desse tipo de alimento e tinha mais 40% da dieta diária baseada neles.
Nessa comparação, alguns tipos de tumores representaram um alto risco para aqueles com refeições recheadas de alimentos não saudáveis. Um deles é o de cérebro: alimentos ultraprocessados representaram um aumento de 52% para o aparecimento do tumor.
MORTALIDADE
Não foi só o desenvolvimento de câncer associado que os pesquisadores investigaram. Eles também buscaram entender o impacto desse tipo de alimento na chance de vir a óbito em razão de um tumor.
Nesse caso, a análise teve resultados semelhantes aos daquela sobre o aparecimento da doença. A cada aumento de 10% na ingestão de comidas ultraprocessadas, a mortalidade por câncer subia cerca de 6%. No caso do câncer de ovário, esse percentual foi na ordem de 30%.
Todos os achados da pesquisa corroboram com outras percepções acerca da relação entre tipo de dieta e câncer. Os autores mencionam que uma das formas de prevenir tumores é a adoção de uma dieta mais equilibrada, com baixos índices de ingestão de alimentos ultraprocessados. Esse tipo de comida normalmente é pobre em nutrientes, além de ser rica em gorduras, sódio e açúcares.
Outro ponto é que esses alimentos são reconhecidos por potencialmente aumentarem os riscos de excesso de peso, o que também se relaciona ao surgimento de cânceres. No estudo, os autores explicam que a obesidade tem associação com tumores no trato digestivo e, em melhores, com alguns relacionados a hormônios.