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Açúcar da cana: saiba como a mudança na receita da Coca-Cola pode afetar a saúde

Excesso de açúcar na alimentação está diretamente associado a maior risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até alterações no metabolismo cerebral

Açúcar da cana: saiba como a mudança na receita da Coca-Cola pode afetar a saúde | Foto: Reprodução/ Internet
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Após pressão do presidente Donald Trump, a Coca-Cola divulgou que vai lançar uma versão da bebida adoçada com o açúcar da cana-de-açúcar nos Estados Unidos. O anúncio aconteceu na terça-feira (22). Hoje, o refrigerante é feito com xarope de milho no país. Alguns países como México, Reino Unido, Austrália, e o próprio Brasil, já possuem a bebida com o açúcar da cana.

Do ponto de vista econômico a troca pode representar a necessidade de importação de açúcar, inclusive do Brasil. Já em relação ao efeito da nova versão na saúde dos consumidores, especialistas defendem que não há indicativos de que seja mais saudável.

Os profissionais alertam que, se consumido em excesso, assim como o xarope de milho, rico em frutose, o de cana-de-açúcar, com açúcar conhecido como sacarose, também é prejudicial para a saúde. A nutricionista pela Unifesp, Lívia Horácio, explica que isso ocorre principalmente em bebidas com alto teor de açúcar, como os refrigerantes.

"Na prática, a troca de xarope de milho por açúcar da cana-de-açúcar não representa uma mudança significativa em termos de impacto nutricional. Ambos continuam sendo fontes de calorias vazias, com alto teor de açúcar e baixo valor nutritivo", destaca Lívia.

Ainda que a troca não represente uma mudança significativa, os nutricionistas ressaltam que de forma geral, o excesso de açúcar na alimentação está associado a maior risco de obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, acúmulo de gordura no fígado e até alterações no metabolismo cerebral.

Comparando os dois tipos de açúcar, a frutose tem sido mais associada a alterações metabólicas do que a sacarose, embora todo os açúcares em excesso sejam prejudiciais. Entenda;

Xarope de milho X cana-de-açúcar

Os nutricionistas explicam o xarope de milho e a cana-de-açúcar são formas de açúcar simples e, quando consumidos com exagero, trazem riscos à saúde. Mas os dois tipos de açúcar não são idênticos.

Entenda a diferença na composição dos dois produtos:

  1. Xarope de milho: é rico em frutose – como o HFCS, usado em bebidas nos EUA – e costuma ter uma proporção maior de frutose em relação à glicose.
  2. Cana-de-açúcar: é rica em sacarose e tem proporções iguais de glicose e frutose.

A nutricionista e mestre em Ciências de Alimentos pela USP, Isabela Gouveia, afirma que a frutose em excesso tende a ser um pouco mais prejudicial, já que essa substância é metabolizada no fígado, o que pode favorecer o acúmulo de gordura no órgão.

"Embora nenhum dos dois possa ser considerado saudável em grandes quantidades, há mais evidências ligando o consumo excessivo de frutose isolada e concentrada a alterações metabólicas, como resistência à insulina e gordura no fígado", analisa Gouveia, que também é pesquisadora do Food Research Center (FoRC/USP).

Ela também destaca que diferentemente do que muitas pessoas acreditam, o problema não está em qualquer tipo de frutose, como a presente nas frutas. O que é realmente prejudicial é a frutose concentrada e ultraprocessada, presente em grandes quantidades em refrigerantes, balas, bolos industrializados, entre outros.

Existe alternativa saudável?

Uma vez que todo tipo de açúcar, em excesso, é nocivo à saúde, não existe uma alternativa considerada mais saudável pelos nutricionistas. A especialista alerta que os açúcares chamados de naturais, como mel, açúcar mascavo ou de coco, por exemplo, contêm pequenas quantidades de minerais e compostos antioxidantes, mas isso não os torna significativamente melhores para a saúde.

Isso vale também para os refrigerantes diet. Apesar de apresentarem uma vantagem do ponto de vista calórico, por não conterem açúcar, não devem ser considerados mais saudáveis no aspecto nutricional. Existem debates sobre os possíveis efeitos dos adoçantes artificiais no apetite, na microbiota intestinal e no metabolismo. "No final, todos as fontes concentradas de açúcar e devem ser consumidos com moderação. A diferença está mais na origem e no sabor do que no impacto metabólico", analisa a nutricionista.

Por que a Coca Cola vai mudar nos EUA?

O secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr, e seu movimento Make America Healthy Again ("Torne a América saudável novamente", em tradução livre) tem defendido que as empresas removam de seus produtos ingredientes como xarope de milho, óleos de sementes e corantes artificiais, associando-os a uma série de problemas de saúde.

Apesar disso, não apresenta qual o embasamento para essa discussão. Assim, como Trump, que ao anunciar a conversa inicial com a Coca Cola para pedir a troca disse que "era simplesmente melhor". Kennedy tem sido crítico em relação à quantidade de açúcar que os americanos consomem e, segundo relatos, planeja atualizar as diretrizes alimentares nacionais em breve.

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